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Opção preferencial pelos nobres, pobreza envergonhada, mau exemplo, responsabilidade – Plinio Corrêa

3-XI-1992 RNob. Transcrição: https://cruciferos.wordpress.com

00:07 Palavras de Pio XII: torres e de torreões a favor da tese central do livro
01:50 Desmontando preconceitos contra a opção preferencial pelos nobres
08:08 Não só o nobre pobre merece atenção
11:50 Os nobres têm mais responsabilidade do que os pobres
13:38 Pelo mau exemplo de um nobre, toda uma instituição perde o seu valor aos olhos dos outros
19:04 Lenda de S. Nicolau sobre a pobreza envergonhada: ausência de citação por falta de fonte segura

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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  • A palavra nobreza, no livro, vem guarnecida de defesas, de torres e de torreões. O torreão mais decisivo ou a verdadeira torre da defesa são os discursos de Pio XII

Então vem aqui essa história segundo as alocuções de Pio XII à Nobreza e ao Patriciado de Roma. Quer dizer, tudo vai ser baseado em ditos de Pio XII, e agora se quiser me atacar, ataquem ao papa. Assim como a gente via nos castelos antigos a torre de menagem, o donjon, a torre grande, mais alta, imponente, e junto a ela, com torreões menores, as torres que guarneciam as várias partes da muralha do castelo, e depois, então, a descida da montanha onde estava o castelo; assim também a palavra nobreza vem aqui guarnecida de defesas, de torres e de torreões.

O torreão mais decisivo ou a verdadeira torre da defesa são os discursos de Pio XII. O que está dado a entender aqui é: “O que está nesse livro é o pensamento de Pio XII ou o que eu deduzo do pensamento de Pio XII segundo raciocínios lógicos, cuja logicidade você é desafiado a vir aqui me provar que não existe. Agora avance.”

Isto é para os Srs. verem, desde a capa do livro, quantas precauções defensivas foram tomadas. [Vira a fita]

Eu desejaria então dois proclamadores para fazerem a leitura. Podem começar.

Nós podemos começar pela “Opção preferencial”.

Opção preferencial: o que é?

  • Quem é a favor da opção preferencial pelos nobres, nem por isso deixa de ser a favor de uma opção preferencial pelos pobres, porque opção não é exclusivismo

Aqui vem uma outra introdução.

A objeção que poderia fazer alguém é: “Pio XII? Quantos papas se passaram de Pio XII para cá? João Paulo II não nos falou uma vez só da opção preferencial pelos nobres, ele fala da opção preferencial pelos pobres. O que é que esse livro vai dizer sobre a opção preferencial pelos pobre? Como é um livro todo voltado a favor da nobreza, esse livro vai provavelmente na linha de esquecer a opção preferencial pelos pobres e falar só dos nobres. É bem isto: os que querem a nobreza se desinteressam pelo povo, não têm pena das classes pequenas da sociedade.”

Então eu resolvi fazer de início uma espécie de barragem contra essa coisa e tomar o contraste que existe entre as palavras nobre e pobre. É um “n” só e um “p” só. Portanto, para o português e para o castelhano — uma grande parte do público para quem esse livro se destina, a Península Ibérica e para porções indefinidamente grandes das três Américas, e ainda mais outras coisas, Filipinas, onde se fala um resto de espanhol — esse contraste joga muito bem. Fala muito menos bem, por exemplo, em alemão, em inglês, nas línguas de outra origem. Mesmo no francês não fala igualmente bem.

Entre pobre e nobre uma possibilidade de um jogo de palavra. O livro sustenta que a opção preferencial por um não exclui a do outro, antes se supõe. E que, portanto, quem é a favor da opção preferencial pelos nobres, nem por isso deixa de ser a favor de uma opção preferencial pelos pobres, porque opção não é exclusivismo. É uma preferência, mas que não é necessariamente para um só, que pode ser para vários. É uma coisa evidente.

Então vai ser lido aqui o texto para os Srs.

Opção preferencial pelos nobres: a expressão quiçá possa surpreender à primeira vista os que se familiarizaram com a fórmula cara a João Paulo II, “opção preferencial pelos pobres”. Porém, é bem uma opção preferencial pelos nobres que anima este livro.

A grande objeção que essa afirmação pode suscitar é que, ex natura rerum — pelo menos — um nobre é relacionado, importante e rico.

“Ex natura rerum” quer dizer pela natureza das coisas.

Ele tem, pois, múltiplos meios para sair de uma situação de penúria em que incidentalmente se encontre. A opção preferencial já foi exercida a favor dele pela Providência, que lhe deu tudo quanto é necessário para que ele se soerga.

É precisamente o contrário o caso do pobre. Ele não é ilustre, não dispõe de relações úteis, freqüentemente faltam-lhe recursos para remediar as suas próprias carências. E, em conseqüência, uma opção preferencial que o ajude a atender às suas necessidades — pelo menos as essenciais — pode ser de estrita justiça.

Assim, uma opção preferencial pelos nobres parece quase um sarcasmo atirado contra os pobres.

É como muita gente sentirá a coisa.

Na realidade, essa antítese entre nobres e pobres tem cada vez menos razão de ser, se se considera a pobreza que vai atingindo gradativamente um número maior de nobres, conforme é lembrado por Pio XII nas suas alocuções ao Patriciado e à Nobreza romana.

Como é lembrado por Pio XII isso já ecoa: “Como é, eu vou entrar em desacordo com Pio XII aí?” Vamos ver.

E o nobre pobre encontra-se em situação mais confrangedora do que o pobre não nobre. Pois este último, pela limitação mesma das suas condições, pode e deve despertar e pôr em acção o senso de justiça bem como a generosidade do próximo.

Pelo contrário, o nobre, pelo próprio facto de ser nobre, tem razões para deixar de pedir auxílio. E prefere esconder o seu nome e a sua origem, quando não tem remédio senão deixar transparecer sua pobreza. É o que, em linguagem expressiva, se chamava outrora a “pobreza envergonhada”.

Os tratadistas antigos recomendavam a esmola para a nobreza envergonha como principal preocupação dos que davam esmola.

O atendimento das necessidades desse género de nobres — como, aliás, também dos empobrecidos decaídos, de qualquer nível da sociedade…

Portanto, não é só dos nobres, era plebeus também que decaíram de sua situação, porque perderam fortuna ou qualquer coisa.

… — era objecto de especiais encómios dos antigos, e a caridade cristã encontrava mil artifícios para aliviar a situação dos pobres envergonhados, a fim de que recebessem a ajuda necessária sem que nada lhes magoasse o senso da dignidade própria.

  • Não é só o pobre de recursos materiais que merece opção preferencial, mas também aqueles que, pelas circunstâncias da sua vida, têm deveres particularmente árduos a cumprir

Mas não é só o pobre de recursos materiais que merece opção preferencial. São também aqueles que, pelas circunstâncias da sua vida, têm deveres particularmente árduos a cumprir, e aos quais incumbe maior responsabilidade no cumprimento desses deveres pela edificação que daí pode resultar para o corpo social, como, em sentido oposto, pelo escândalo que a transgressão desses deveres pode trazer ao mesmo corpo social.

Nessas condições encontram-se freqüentemente membros da nobreza contemporânea, como se mostra na presente obra.

A opção preferencial pelos nobres e a opção preferencial pelos pobres não se excluem, e menos ainda se combatem, segundo ensina João Paulo II:

Mais uma vez. É dessa vez João Paulo II que ensina, texto que encontramos dele.

“Sim, a Igreja faz sua a opção preferencial pelos pobres. Uma opção preferencial, note-se, não, portanto, uma opção exclusiva ou excludente, porque a mensagem da salvação é destinada a todos”.

É como um pai que prefere a um filho; isso quer dizer que ele não quer bem aos outros?

Essas diversas opções são modos de manifestação do senso da justiça ou da caridade cristã, que só podem irmanar-se no serviço do mesmo Senhor, Jesus Cristo, que foi o modelo dos nobres e modelo dos pobres, segundo nos ensinam com insistência os Romanos Pontífices.

Mais uma vez, os Romanos Pontífices.

Sirvam estas palavras de esclarecimento para os que, animados pelo espírito de luta de classes — de momento num evidente declínio — imaginam existir uma relação inevitavelmente conflituosa entre o nobre e o pobre. Esta intelecção equivocada levou muitos deles a interpretar as palavras opção preferencial, usadas por S.S. João Paulo II, como se significassem preferência exclusiva. Tal interpretação, apaixonada e facciosa, carece de qualquer objectividade. As preferências de uma pessoa podem incidir simultaneamente, e com graus diversos de intensidade, sobre vários objectos. Pela sua natureza, a preferência por um deles de nenhum modo indica uma forçosa exclusão dos outros.

Eu falei dos filhos, há tantos outros casos.

Numa joalheria uma senhora está escolhendo jóias. Ela pode ter preferência por uma jóia mas comprar várias. Por quê? Porque ela gosta também das outras, a preferência não é exclusiva.

Plinio Corrêa de Oliveira, um homem de Fé, de pensamento — de luta e de acção

Isso os Srs. podem saltar.

O Prof. Doutor Plinio Corrêa de Oliveira nasceu em São Paulo, Brasil, em 1908.

(Sr. A. Meran: Sr. Dr. Plinio, o Sr. podia agora fazer o comentário geral desse capítulo? Não sei se é o caso ou não.)

O comentário geral do capítulo é o seguinte:

  • Os nobres têm mais responsabilidade do que os pobres, e aquele que tem mais responsabilidade e tem uma vida, debaixo de certo ponto de vista, mais dura, este merece também mais apoio

O capítulo diz o que diz, na realidade é uma obrigação mais pesada para o nobre e, portanto, eles têm mais responsabilidade do que os pobres. E aquele que tem mais responsabilidade e tem uma vida, debaixo de certo ponto de vista, mais dura, este merece também mais apoio.

O Sr. vê, por exemplo, um nobre que freqüenta uma escola. Se esse nobre é um nobre — eu tenho certeza porque eu tenho informações — como era D. Luís e D. Bertrand quando freqüentavam a escola dos palotinos em Jacarezinho, eles davam o exemplo da boa conduta, da virtude, até mesmo quando eles eram mal-vistos por causa disto. Num ambiente de colégio aqui no Brasil é muito freqüente que seja mal visto quem guarda a castidade, quem se recusa a pronunciar palavras imorais, etc. Esse é mal-visto. Daí, muitas vezes, caçoadas, sarcasmos, que atingiam a eles com particular veneno. Isto eles não me contaram, mas eu imagino como seria no meu tempo no Colégio São Luís e em outros colégios, posso afiançar que era isso. Sarcasmos dirigidos contra o título como [quem] diz: “É, seu príncipe, isso não vale nada” — brincadeiras desse gênero. Atingindo de preferência o nobre como sendo o alvo odiado pela Revolução. Uma coisa passava para a outra.

  • Pelo mau exemplo de um nobre, toda uma instituição, de mais de mil anos de prestígio e de seriedade, perde o seu valor aos olhos dos outros

É uma vida mais dura. Mas o que é mais duro é que se ele ceder e pecar, ele comete um pecado do qual os outros colegas dele não são capazes, porque como eles não têm a influência que tem naturalmente o nobre, eles dando mau exemplo, o mau exemplo não é tão nocivo quanto o mau exemplo dado pelo nobre. Se um nobre é visto praticando uma ação impura entre meninos de colégio, [dizem]: “Olha lá essa nobreza o que é que é! Não é nada.” É toda uma instituição de mais de mil anos de prestígio e de seriedade que perde o seu valor aos olhos dos outros, de uma geração nova que sobe, por causa do mau exemplo que deu um. Que responsabilidade, que pecado! Em sentido oposto, se for um menino qualquer que importância tem isso? Não tem, anda, está acabado.

Eu me lembro, por exemplo, de uma coisa que era característica:

Havia aqui dois príncipes parentes de D. Luís e de D. Bertrand, dois príncipes da Casa de Bourbon. Moravam no Brasil. Um deles, aliás, ainda mora no Brasil. Por uma coincidência qualquer propagou-se aqui naquele tempo um fixador, que não sei porquê chamava-se fixador “Bourbon”. Era fabricado por um comerciante qualquer e não tinha nenhuma importância.

Apareceram esses dois meninos, Fulano de Bourbon, Sicrano de Bourbon, e espalhou-se no Colégio São Luís no meio de risotas. Um dos colegas perguntou para um dos príncipes: “Me diga uma coisa, quem é o seu pai, é o fabricante do fixador ‘Bourbon’?” Então gargalhadas, debiques, etc.

É preciso agüentar e é preciso agüentar com dignidade, do contrário a instituição se enxovalha. Essa enxovalhação da instituição vem da maior obrigação que pesa sobre os nobres. Pesando sobre os nobres essa maior obrigação, é evidente que eles também têm direito a maiores regalias e têm direito a maiores apoios nas situações em que eles estão.

Não sei se está claro isso. É o sentido da coisa.

Bem, então para a frente.

  • Um ambiente de luta de classes em declínio

(Dr. Camargo: Dr. Plinio, aqui tem uma coisa sobre a luta de classes em evidente declínio. O Sr. colocou assim ou não é tão evidente esse declínio?)

Se o Sr. distinguir luta de classes de comunismo, o declínio é evidente. O Sr. vê aqui no Brasil mesmo, onde as classes mais pobres são precisamente que apóiam mais o que está no alto.

O “Catolicismo” tem preparado para publicar uma entrevista com o Pe. Comblant, que o Sr. sabe muito bem quem é. É um padre agitador belga contra o qual a TFP promoveu em outros tempos uma onda tremenda e que ficou quebrado por causa disso. Ele manifesta o desapontamento dele porque no Brasil os planos de ação que ele tinha fracassaram. Fracassaram porque precisamente quando se vai falar aos pobres de tirarem aquilo [que necessitam] aos ricos, os pobres manifestam escrúpulos de consciência e não querem, dizendo que isto é roubo.

Isso é um ambiente de luta de classes em declínio, porque eu assisti greves e soube — não vi, mas soube — que no Palácio Campos Elíseos, que era o palácio do governo antigamente, que ficava a umas três quadras de minha casa, houve em 1917 — pouco mais ou menos assim, eu deveria ter, portanto, uns oito, nove anos — motins de operários grevistas, anarquistas, muitos deles vindos da Europa, para exigir aumento de salário do governo, e o governo mandava a cavalaria da Polícia Militar dar carga de lança em punho para dispersar de qualquer maneira. Era a luta de classes fervendo no Brasil naquela época. E por isso também se fundou não muito depois disso um partido comunista brasileiro. Mas isto veio em declínio.

O que levou Pio XII, no “Katholikentag” de Viena, [a] escrever que se tinha encontrado tais maneiras de equilibrar a situação entre patrões e operários, que a luta de classes podia ser considerada extinta na Europa. É uma coisa que eles não gostam de dizer e que eu aqui não citei, porque eu quero que eles me levantem isso [para] eu citar em cima deles.

Agora, se o Sr. tomar em vez de luta de classes a luta comunista, quer dizer, uma ação a favor do comunismo, falar de evidente declínio é uma coisa… enfim, muito cheia de matizes. Mas é diferente da luta de classes.

Há mais outra pergunta a fazer?

Vamos andando.

  • A origem da lenda de São Nicolau

Para entretê-los um instante, eu não mencionei no livro porque não encontrei a fonte segura, encontrei fontezinhas assim. Mas os Srs. todos já devem ter ouvido falar de São Nicolau, que trazia, segundo uma velha lenda, presentes para as crianças na noite de Natal. Eu mesmo fui um entusiasta de São Nicolau e da noite de Natal com os presentes que o São Nicolau doméstico — era o meu pai e minha mãe — punham nos meus pés enquanto eu estava dormindo, para eu acordar de madrugada de vontade de conhecer o presente, sentir nos pés o peso do presente e achar que imaginá-los era mais gosto do que tê-los. Por isso não me sentava para abri-los, para ficar imaginando até de manhã. Vinha o sono e quando eu acordava era dia claro.

Qual é a origem dessa lenda?

Segundo consta, São Nicolau seria bispo de Bari, no Oriente Próximo, e ele tinha muita pena dos nobres envergonhados que no tempo dele, na diocese dele, eram numerosos. Então, quando chegava a noite de Natal, ele arranjava meios de jogar presentinhos nas casas dos nobres pobres para serem distribuídos às crianças no dia seguinte. E daí veio toda a legenda de São Nicolau distribuindo presentes às crianças na noite de Natal.

É uma linda lenda que perfuma o tema muito agradavelmente, mas que não tendo fonte histórica segura eu não quis mencionar.

Influência virtuosa que a nobreza deve exercer. Preconceitos contra as elites – Plinio Corrêa de O.

3-XI-1992 RNob

00:00 Influência virtuosa que deve exercer a nobreza sobre um povo
04:09 Da nobreza se entra e sai. Exemplo da Espanha
08:27 Por que “Elites Tradicionais” no livro?
12:33 Preconceito contra o nobre: pote de arrogância e orgulho

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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  • Qual é o papel da influência? O que é propriamente a influência?

Bom, a influência? Eu falei em poder e falei em influência — são coisas distintas. Qual é o papel da influência neste assunto? O que é que é propriamente influência?

Muitas vezes para se conhecer comodamente o sentido de uma palavra, nada é interessante nem fácil como a gente recorrer a etimologia da palavra. Como é que essa palavra se constituiu?

Fluere, fluir; um rio flui. Influência, um rio flui em; entra em e enche algo.

Os Srs. imaginem, por exemplo, aqui o Pátio da Glória de Nossa Senhora onde se realizam os nossos lindos alardos. Os Srs. imaginem que houvesse ali perto um regatozinho e por um fenômeno geológico qualquer as águas desses regato uma noite transbordassem e passassem a encher o pátio dos alardos. Dir-se-ia que o rio influiu o pátio dos alardos, fluiu em, teve influência.

Está claro esse sentido da palavra? Não é linguagem corrente, mas foi como nasceu a palavra.

Por analogia passou-se a dizer que aquele que tem uma ação profunda sobre o pensar, o querer ou as maneiras de ser de outrem, influencia o outrem. Porque são traços da personalidade dele que correm para dentro do outro e modelam o outro, como o corregozinho modelaria o pátio aqui dos alardos. Então esta é a influência.

  • A nobreza deve não só morrer pelos habitantes do país, mas ela deve influenciar o país. A figuração do tipo humano é um dos deveres da nobreza

A nobreza deve influenciar. Ela não deve só morrer pelos habitantes do país, mas ela deve influenciar o país.

Influenciar em que sentido da palavra? Ensinar uma das arte mais nobres que há, que é a arte de viver.

A arte do bom gosto, a arte da boa ordenação da vida, a arte das boas maneiras, a arte da distinção, o ter o perfil humano. Eu não digo o perfil no sentido físico, anatômico da palavra, se o nariz é grande ou pequeno, não é nisso. É a arte de ter o tônus humano próprio ao nobre. Isto é alguma coisa que as famílias nobres modelam com a tradição. A tradição vai modelando, modelando, modelando, e é o tipo humano que todo o mundo quer seguir porque vê e acha que deve ser. A figuração do tipo humano é um dos deveres da nobreza.

Os Srs. dirão que isto foi suprimido nos tempos modernos, pelo direito que tem cada homem de se modelar como quiser.

  • Uma péssima escola, como os atores de cinema que influenciam hoje em dia, não pode ser chamada elite nem no sentido análogo, é uma caricatura

Não era obrigatório uma pessoa se modelar segundo o nobre. Era uma possibilidade, era uma vantagem que era posta ao alcance dele, não era uma obrigação. [É] mais ou menos como hoje em nossos dias — comparação horrível — as pessoas se modelam de acordo com os atores de cinema, atores de teatro, atores de televisão, e daí para fora, e daí para baixo. É o modelo de hoje. Eles é que influenciam.

Por que é que não constituem uma nobreza? É porque eles não fazem isto num sentido que eleva. Eles fazem isto num sentido que deprime, que acachapa, que desmoraliza, que espandonga. E por isso são uma péssima escola. Uma péssima escola não pode ser chamada elite, nem no sentido análogo, nem nada, é uma caricatura.

Nós compreendemos aqui todo o papel da nobreza, depois das elites análogas.

  • A nobreza não é uma coisa fechada, a nobreza é uma coisa aberta: na nobreza se entra, da nobreza se sai

Nasce uma elite análoga, então seriam os juízes, em outros lugares são os professores de universidade além dos juízes. Em alguns outros lugares, como, por exemplo, em um dos reinos da Espanha, uma família que em uma ou duas gerações tinha ao mesmo tempo militares de alta patente, professores universitários, bispos, e assim três ou quatro outras situações não nobres necessariamente, mas situações de importância, quando a família tinha um certo número de pessoas assim, a família toda ficava enobrecida. Porque se entendia que esses cargos davam uma certa educação que formava o escol humano, e que esse escol humano formava uma nobreza.

Daí se segue a seguinte idéia:

A nobreza não é uma coisa fechada, a nobreza é uma coisa aberta. Na nobreza se entra, da nobreza se sai.

Entra-se na nobreza quando pela modelagem da sociedade uma determinada classe, uma determinada profissão, qualquer coisa — precisa ser uma profissão honesta e precisa não ser de trabalho servil, de trabalho manual —, uma pessoa digna, uma pessoa apresentável presta determinado serviço ao bem comum. Ou determinada família presta certos serviços ao bem comum e por causa disso é elevada à nobreza.

Conforme a modelagem da vida da sociedade, há um interesse em prometer a nobreza para as pessoas que queiram seguir uma certa carreira.

Vamos dizer, por exemplo, uma zona inculta de um país, com pessoas sem instrução. O rei resolve, para cultivo daquela zona, abrir uma universidade. Mas para aquela zona de incultos, de tabaréus, levar para lá professores universitários é muito difícil. Importa não só em lhes dar um bom ordenado, mas importa em dar a eles uma certa consideração pelo sacrifício que eles fazem de ir para lá. Então pode ser perfeitamente que o rei dê nobreza a uma família que durante duas gerações, por exemplo, exerceu cargo de professor naquela universidade dignamente. A pessoa se sacrificou para o bem comum.

Então, conforme a produção da cultura, a produção sobretudo da virtude, a produção do ouro, da riqueza, etc., vá se modelando, tais ou tais profissões, tais ou tais situações, podem ir franqueando as portas para a nobreza. Ou a nobreza pura e simples, ou a nobreza de primeira, de segunda ou de terceira classe. Mas sempre nobreza, graus hierárquicos de nobreza.

Isto são as elites análogas à nobreza, aquelas que se tornam nobilitáveis e são nobilitadas, quer dizer, elevadas à nobreza por causa do seu muito bem fazer, com vantagem para o bem comum, num determinado ramo de coisas.

  • Por que o SDP ao tratar das elites no livro da Nobreza se refere às “elites tradicionais”?

Falando de elites aí eu digo, entretanto, elites tradicionais. Por quê? Porque em geral o primeiro que adquire uma fortuna não adquire as maneiras para ser um homem nobre, e para ser nobre é preciso ter maneiras.

Um ótimo livro para figurar numa ótima biblioteca precisa estar encadernado. Não basta que o conteúdo dele seja muito bom, mas se ele não tem uma bela encadernação, não pode figurar numa bela biblioteca.

Portanto, um homem também, que ainda é muito tosco, não fica bem num belo ambiente nobre. Seu filho, melhor seu neto, recebem essa destilação de alguma coisa de incomparável que melhora de geração em geração: são a virtude, as maneiras no modo de ser e a educação. Quando isto chegou a um certo ponto, a elite se tornou tradicional, ela quase automaticamente de elite análoga passa a nobre.

De maneira que pela ordem das coisas, assim como um vinho pode ter um valor “x” se é um vinho novo, mas tem um valor “x” vezes cinco ou vezes dez se é um vinho antigo, assim também [é] uma família. Sem que o conteúdo da garrafa de vinho mude, ao cabo de algumas gerações tomou aquela nota que só a antiguidade, o tempo dão às coisas.

Eu li recentemente um caso que eu creio que contei aqui.

O Rei Luís XIV vinha dos aposentos dele para uma sala onde ele tomava refeições em Versailles, e vinha — não estranhem o modo de ser — precedido de música, todo um cortejo. Ele entrava na sala, tinha gente na sala, todos faziam reverência, cumprimentavam e quem queria pedia alguma coisa para ele. E um coronel que tinha perdido um braço na guerra parou várias diante do rei e explicou:

— “Sir, eu perdi esse braço na guerra. Eu queria ter uma pensão que compensasse isso.”

E o rei dizia sistematicamente:

— “Je verrai” — eu verei.

Uma vez ele passou diante do rei e o rei pela enésima vez disse — ele dizia, aliás, de um modo sempre polido, que ele era muito polido:

— “Eu verei.”

— “Sir, se na hora em que meu general me mandou avançar eu tivesse dito a ele eu verei, meu braço ainda estaria no meu corpo.”

Um dito engraçado e espirituoso. O rei deu ordem de darem a pensão para ele.

Os quintos avôs deles e do rei não teriam tratado isso assim. Isso foi tratado com esse espírito da parte do homem que perdeu o braço, e com esta compreensão das coisas da parte do rei, porque cinco gerações de guerras tinham se sucedido naquela família. Mas também cinco gerações de educação, cinco gerações polidas pela influência intelectualizante, sobretudo moralizante e também educativa no sentido corrente da palavra da Igreja Católica Apostólica Romana.

De maneira que [de] um fatozinho mínimo saía faísca de um dito de espírito. Entre o rei e o pobre mutilado esse dito de espírito era uma faísca do gênio da França.

  • O SDP quis pôr elites tradicionais para excluir a idéia horrível do “parvenu”

Eu, então, quis pôr elites tradicionais para excluir a idéia horrível do parvenu, do homem que ficou rico mas que ainda usa tamanco, que se tornou hiper-abdominal porque comeu demais do dinheiro que ganhou, que ficou uma caricatura de si próprio e que entretanto quer ser chamado um senhor marquês. Não tem propósito. Seria o caso de responder: “Emarquese-se, depois você ficará marquês. A tradição fará isto.”

Então fica entendido para todo o mundo que não é da nobreza que há uma porta aberta, e é uma porta muito larga, por onde se entra com as cautelas da tradição. [Palmas]

  • Criou-se um preconceito de que o título de nobreza torna o indivíduo pote de orgulho e de arrogância, e que ele olha para quem não é nobre com um desprezo que toca as raias da hostilidade

Agora entra o suco do negócio, porque há muito católico que tomado de heresia branca de Msg. Emery, de quanta porcaria há, acha que pelo fato do nobre ser nobre, despreza quem não é nobre, e que desprezando quem não é nobre ele falta de caridade para quem não é nobre, e, portanto, acha que a nobreza é de si uma instituição anticaritativa.

Eu me lembro [que] uma ocasião eu fiz parte de um concurso. Eu não me lembro nem bem mais para que é que era. Era para qualquer coisa do ensino secundário. A banca da qual eu fazia parte era constituída de professores universitários. Havia, se não me engano, um professor secundário que desempenhava um papel de secretário ou qualquer coisa da banca, e havia um professor primário que tomava conta da sala. E um professor estrangeiro sentado a meu lado, era também membro da banca, me disse baixinho… Eu não sei como é que ele me disse isso, porque estava claríssimo pelo meu nome e por todo modo meu de ser que eu era brasileiro. Mas ele falou comigo como se eu não fosse brasileiro, como confidência de um estrangeiro a outro estrangeiro. Eu não quero dizer em que língua ele falou. Ele me disse baixinho:

— “Curioso país este aqui, porque [a] todos se chama de professor, desde nós aqui, que somos professores universitários, até a um professor secundário e um professor primário. Isso não deve ser assim, cada um deve ter seu título próprio: o mestre escola, o professor secundário e o professor universitário.

Eu quase que respondi para ele:

— “É verdade, é por isso também que na sociedade um deve ser plebeu e outro deve ser nobre.”

Eu tenho certeza que ficaria estomagado, mas estomagado com o argumento irrepreensível. A objeção dele é verdadeira, mas por que não aplicar isso? Não, criou-se um preconceito que o título de nobreza torna o indivíduo pote de orgulho e de arrogância, e que ele olha para quem não é nobre com um desprezo que toca as raias da hostilidade.

Exemplos de elites: togada, agricultores, guerreiros, chefes feudais – Plinio Corrêa de Oliveira

3-XI-1992 RNob

00:00 A nobreza togada na França
03:10 nobreza dos agricultores e guerreiros
08:43 o nobre podia ser convocado para a guerra, mas não o plebeu

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

Áudio editado SEM GRITINHO JOANISTA, COMO TUDO NO CANAL.

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  • A nobreza togada, na França

Podem se dar exemplos desses em vários outros casos da Europa. Eu mencionaria apenas de passagem a nobreza togada, na França.

Os magistrados adquiriram na França… pela natureza do cargo, as leis francesas reconheciam a eles o direito de vitaliceidade no cargo. Quer dizer, o magistrado era vitalício, não podia ser demitido nem pelo rei. Depois, ele era inamovível, não podia ser transferido pelo rei de um lugar para outro se ele não quisesse, de maneira que o rei não podia fazer pressão sobre ele: “Eu te mando para Cacha-Prego se você não der a sentença que eu quero.” Ele era independente em relação ao rei.

Bom, do que vivia o magistrado?

O magistrado, é uma coisa muito singular, vivia dos presentes que as partes faziam. Então as gravuras do Ancien Régime que representam o magistrado, o apresentam em geral trabalhando junto a uma escrivaninha, com um hábito, uma espécie de toga grande que chegava até aos pés, um barrete em ponto vermelho, meio parecido com os barretes que usam os nossos amigos padres de Campos como perpetuação da uma velha tradição da Igreja quanto aos sacerdotes. Mas eles não eram sacerdotes, os barretes deles eram vermelhos. Em cima do lugar onde eles trabalhavam, duas ou três traves de metal ou de madeira pendurados alguns dos presentes que eles recebiam. Então eram presuntos, mas dois, três presuntos, eram aves que foram caçadas e que estavam — não havia geladeiras no tempo — penduradas de cabeça para baixo com as asas caídas, eram leitõesinhos mortos, e aquilo cheio. Sem falar do dinheiro sonante que entrava.

Isso podia acarretar uma venalidade medonha da profissão, o fato é que eles gozavam de muita consideração da parte do povo. E começaram de tal maneira a enriquecer e a tomar tanta importância, tais eram os assuntos de primeira importância que passavam pelas mãos do Judiciário, é evidente, que eles acabam constituindo uma classe análoga à nobreza pela importância, e análoga à nobreza pela riqueza que ia ganhando. Resultado: essa classe acabou constituindo uma espécie de nobreza de segunda classe.

*A nobreza dos agricultores e guerreiros

Não era nobreza dos agricultores e guerreiros. Esses agricultores e guerreiros tinham feudos desde o tempo da Idade Média, muitas vezes os seus antepassados tinham sido os primeiros que tinham desbravado aquela terra. Eles descendiam desses antepassados, eles eram, portanto, os fundadores daquele lugar, os pais do lugar, pais da pátria se os Srs. quiserem.

Por outro lado eles tinham um castelo em cujas muralhas se abrigavam os plebeus no caso de sítio do exterior, invasão do exterior. O castelo abrigava toda a população e ainda os objetos preciosos, o gado, as riquezas que a população acumulava, para impedir que o adversário os destroçasse. O castelo do chefe era tanto maior quanto maior a população, e a população tinha alegria em ver que o dono do castelo tinha um castelo enorme, porque eles cabiam lá dentro. A casa do nobre era o cofre forte do plebeu

Ali figurava também o tesouro dos tesouros: era a matriz. Em geral a matriz daquela zona onde tinha um padre, fazia às vezes de vigário, era vigário. Era dentro do castelo, um pátio interior que tinha dentro do castelo. Então o Santíssimo Sacramento, Nosso Senhor Jesus Cristo sob as espécies eucarísticas realmente presente como esteve na Galiléia, na Judéia, Jesus Cristo era protegido contra a sanha de maometanos ou de bárbaros que assaltassem o castelo pela solidez da muralha do castelo.

De maneira que, quando um plebeu passava pelo castelo e olhava a solidez dos muros, ele não pensava o seguinte: “Esta família está bem garantida. A minha, coitadinha, vai ficar espatifada se vier uma invasão estrangeira.” Ele pensava outra coisa: “Como foi bom este senhor feudal meu, construindo para si e para mim um recinto tão forte, tão seguro, onde cabe a minha família e mais ainda o meu Deus.” Era a proteção de Deus, a proteção do senhor feudal para toda a vassalagem dos arredores.

  • Nas guerras, o duelo entre nobre e nobre sintetizava a luta de todos os plebeus que estavam lutando

Durante a noite inteira, nas muralhas do castelo, tinham guardas andando, e se eles percebiam qualquer coisa, davam um sinal, todos os guardas começavam a gritar o sinal, o sino do castelo tocava e as populações começavam a se movimentar quando ao longe no caminho já se notavam algumas tochas, algumas luzes que denunciavam. A noite estava tão escura que era preciso não se fiar no luar, era preciso acender as luzes para poder ir para a frente. Mas acendendo as luzes [era] dizer ao adversário: “Nós estamos aqui.” Todo o mundo se levantava durante a noite, as portas do castelo não se fechavam, elas se abriam para que todo o mundo entrasse. Entrava todo o mundo às carreiras, trancava, e os chefes de família, os homens válidos daquele castelo, desde o senhor até ao último ordenhador de vacas, ocupavam as muralhas e começava a guerra.

A guerra dirigida pelo senhor, porque o pai dele, o avô dele tinham ensinado a ele a arte da guerra que ninguém conhecia. Ele era o general, ele era o pai, ele era o escudeiro de Deus que estava ali presente, e ele é quem devia se expor aos maiores riscos. Por quê? Porque quem ia galgar as muralhas era o nobre do outro lado. E não adiantava o nobre sitiado mandar plebeus lutar contra o outro nobre, porque o nobre — a comparação é prosaica — estaria para o plebeu, como um homem que sabe karatê está para um homem que não sabe nada. Ele é espatifado pelo karatê. Assim o nobre que sabia a arte de manejar a espada, de manejar o escudo, de dirigir a guerra, para segurá-lo no alto da muralha e depois o jogar para baixo no fosso líquido que rodeava o castelo, muitas vezes com víboras postas intencionalmente para morder o adversário caso caísse lá dentro, este, só podia ser acertadamente, validamente contra-atacado pelo nobre da casa. Então duelo entre nobre e nobre sintetizava a luta de todos os plebeus que estavam lutando por lá.

Os Srs. compreendem que o papel de devotamento do nobre era muito grande, ele era propriamente o devotado. Tanto mais que tinha o seguinte:

  • O rei tinha o direito de convocar todos os nobres para a guerra, mas não tinha direito de convocar os plebeus

Em caso de guerra do rei — não era mais do nobre individualmente contra o outro nobre, mas do rei contra outro país —, o rei tinha direito de convocar todos os nobres para a guerra. Ele não tinha direito de convocar os plebeus, porque os plebeus não eram classe militar e não tinham que expor o risco da vida. Quem ia para frente e ia deixar no campo de batalha um olho, um braço, uma perna ou a vida, eram os nobres, enquanto os plebeus ficavam fazendo comércio.

Os Srs. estão vendo que se hoje se oferecesse a muita gente o título de nobreza caso eles quisessem ir para a guerra e a plebeidade caso quisessem ficar isentos do serviço militar, na nossa época comercial muita gente diria: “Nobreza que vá às favas, eu não quero ser nobre. Eu quero ser plebeu, mas eu não quero me arriscar à guerra.” Naquele tempo seria uma vergonha: “Não fazer esse sacrifício comum? Você não querer pelo bem comum seu, do rei ou de Jesus Cristo Nosso Senhor expor a sua vida? Você é um biltre, você não vale nada, você não é nobre.”

Então vinha a elevação e a consideração que se tinha. Porque esses que mereciam, que faziam na esfera civil uma dedicação completa a favor do bem temporal, como o padre, sobretudo o religioso, dentro da Igreja opera uma dedicação completa a favor do bem espiritual da Cristandade.

  • Qual é o papel da influência? O que é propriamente a influência?

Bom, a influência? Eu falei em poder e falei em influência — são coisas distintas. Qual é o papel da influência neste assunto? O que é que é propriamente influência?

Muitas vezes para se conhecer comodamente o sentido de uma palavra, nada é interessante nem fácil como a gente recorrer a etimologia da palavra. Como é que essa palavra se constituiu?

Fluere, fluir; um rio flui. Influência, um rio flui em; entra em e enche algo.

Os Srs. imaginem, por exemplo, aqui o Pátio da Glória de Nossa Senhora onde se realizam os nossos lindos alardos. Os Srs. imaginem que houvesse ali perto um regatozinho e por um fenômeno geológico qualquer as águas desses regato uma noite transbordassem e passassem a encher o pátio dos alardos. Dir-se-ia que o rio influiu o pátio dos alardos, fluiu em, teve influência.

Está claro esse sentido da palavra? Não é linguagem corrente, mas foi como nasceu a palavra.

Por analogia passou-se a dizer que aquele que tem uma ação profunda sobre o pensar, o querer ou as maneiras de ser de outrem, influencia o outrem. Porque são traços da personalidade dele que correm para dentro do outro e modelam o outro, como o corregozinho modelaria o pátio aqui dos alardos. Então esta é a influência.

  • A nobreza deve não só morrer pelos habitantes do país, mas ela deve influenciar o país. A figuração do tipo humano é um dos deveres da nobreza

A nobreza deve influenciar. Ela não deve só morrer pelos habitantes do país, mas ela deve influenciar o país.

Influenciar em que sentido da palavra? Ensinar uma das arte mais nobres que há, que é a arte de viver.

A arte do bom gosto, a arte da boa ordenação da vida, a arte das boas maneiras, a arte da distinção, o ter o perfil humano. Eu não digo o perfil no sentido físico, anatômico da palavra, se o nariz é grande ou pequeno, não é nisso. É a arte de ter o tônus humano próprio ao nobre. Isto é alguma coisa que as famílias nobres modelam com a tradição. A tradição vai modelando, modelando, modelando, e é o tipo humano que todo o mundo quer seguir porque vê e acha que deve ser. A figuração do tipo humano é um dos deveres da nobreza.

Os Srs. dirão que isto foi suprimido nos tempos modernos, pelo direito que tem cada homem de se modelar como quiser.

  • Uma péssima escola, como os atores de cinema que influenciam hoje em dia, não pode ser chamada elite nem no sentido análogo, é uma caricatura

Não era obrigatório uma pessoa se modelar segundo o nobre. Era uma possibilidade, era uma vantagem que era posta ao alcance dele, não era uma obrigação. [É] mais ou menos como hoje em nossos dias — comparação horrível — as pessoas se modelam de acordo com os atores de cinema, atores de teatro, atores de televisão, e daí para fora, e daí para baixo. É o modelo de hoje. Eles é que influenciam.

Por que é que não constituem uma nobreza? É porque eles não fazem isto num sentido que eleva. Eles fazem isto num sentido que deprime, que acachapa, que desmoraliza, que espandonga. E por isso são uma péssima escola. Uma péssima escola não pode ser chamada elite, nem no sentido análogo, nem nada, é uma caricatura.

Nós compreendemos aqui todo o papel da nobreza, depois das elites análogas.

  • A nobreza não é uma coisa fechada, a nobreza é uma coisa aberta: na nobreza se entra, da nobreza se sai

Nasce uma elite análoga, então seriam os juízes, em outros lugares são os professores de universidade além dos juízes. Em alguns outros lugares, como, por exemplo, em um dos reinos da Espanha, uma família que em uma ou duas gerações tinha ao mesmo tempo militares de alta patente, professores universitários, bispos, e assim três ou quatro outras situações não nobres necessariamente, mas situações de importância, quando a família tinha um certo número de pessoas assim, a família toda ficava enobrecida. Porque se entendia que esses cargos davam uma certa educação que formava o escol humano, e que esse escol humano formava uma nobreza.

Daí se segue a seguinte idéia:

A nobreza não é uma coisa fechada, a nobreza é uma coisa aberta. Na nobreza se entra, da nobreza se sai.

Entra-se na nobreza quando pela modelagem da sociedade uma determinada classe, uma determinada profissão, qualquer coisa — precisa ser uma profissão honesta e precisa não ser de trabalho servil, de trabalho manual —, uma pessoa digna, uma pessoa apresentável presta determinado serviço ao bem comum. Ou determinada família presta certos serviços ao bem comum e por causa disso é elevada à nobreza.

Conforme a modelagem da vida da sociedade, há um interesse em prometer a nobreza para as pessoas que queiram seguir uma certa carreira.

Vamos dizer, por exemplo, uma zona inculta de um país, com pessoas sem instrução. O rei resolve, para cultivo daquela zona, abrir uma universidade. Mas para aquela zona de incultos, de tabaréus, levar para lá professores universitários é muito difícil. Importa não só em lhes dar um bom ordenado, mas importa em dar a eles uma certa consideração pelo sacrifício que eles fazem de ir para lá. Então pode ser perfeitamente que o rei dê nobreza a uma família que durante duas gerações, por exemplo, exerceu cargo de professor naquela universidade dignamente. A pessoa se sacrificou para o bem comum.

Então, conforme a produção da cultura, a produção sobretudo da virtude, a produção do ouro, da riqueza, etc., vá se modelando, tais ou tais profissões, tais ou tais situações, podem ir franqueando as portas para a nobreza. Ou a nobreza pura e simples, ou a nobreza de primeira, de segunda ou de terceira classe. Mas sempre nobreza, graus hierárquicos de nobreza.

Isto são as elites análogas à nobreza, aquelas que se tornam nobilitáveis e são nobilitadas, quer dizer, elevadas à nobreza por causa do seu muito bem fazer, com vantagem para o bem comum, num determinado ramo de coisas.

  • Por que o SDP ao tratar das elites no livro da Nobreza se refere às “elites tradicionais”?

Falando de elites aí eu digo, entretanto, elites tradicionais. Por quê? Porque em geral o primeiro que adquire uma fortuna não adquire as maneiras para ser um homem nobre, e para ser nobre é preciso ter maneiras.

Um ótimo livro para figurar numa ótima biblioteca precisa estar encadernado. Não basta que o conteúdo dele seja muito bom, mas se ele não tem uma bela encadernação, não pode figurar numa bela biblioteca.

Portanto, um homem também, que ainda é muito tosco, não fica bem num belo ambiente nobre. Seu filho, melhor seu neto, recebem essa destilação de alguma coisa de incomparável que melhora de geração em geração: são a virtude, as maneiras no modo de ser e a educação. Quando isto chegou a um certo ponto, a elite se tornou tradicional, ela quase automaticamente de elite análoga passa a nobre.

De maneira que pela ordem das coisas, assim como um vinho pode ter um valor “x” se é um vinho novo, mas tem um valor “x” vezes cinco ou vezes dez se é um vinho antigo, assim também [é] uma família. Sem que o conteúdo da garrafa de vinho mude, ao cabo de algumas gerações tomou aquela nota que só a antiguidade, o tempo dão às coisas.

Eu li recentemente um caso que eu creio que contei aqui.

O Rei Luís XIV vinha dos aposentos dele para uma sala onde ele tomava refeições em Versailles, e vinha — não estranhem o modo de ser — precedido de música, todo um cortejo. Ele entrava na sala, tinha gente na sala, todos faziam reverência, cumprimentavam e quem queria pedia alguma coisa para ele. E um coronel que tinha perdido um braço na guerra parou várias diante do rei e explicou:

— “Sir, eu perdi esse braço na guerra. Eu queria ter uma pensão que compensasse isso.”

E o rei dizia sistematicamente:

— “Je verrai” — eu verei.

Uma vez ele passou diante do rei e o rei pela enésima vez disse — ele dizia, aliás, de um modo sempre polido, que ele era muito polido:

— “Eu verei.”

— “Sir, se na hora em que meu general me mandou avançar eu tivesse dito a ele eu verei, meu braço ainda estaria no meu corpo.”

Um dito engraçado e espirituoso. O rei deu ordem de darem a pensão para ele.

Os quintos avôs deles e do rei não teriam tratado isso assim. Isso foi tratado com esse espírito da parte do homem que perdeu o braço, e com esta compreensão das coisas da parte do rei, porque cinco gerações de guerras tinham se sucedido naquela família. Mas também cinco gerações de educação, cinco gerações polidas pela influência intelectualizante, sobretudo moralizante e também educativa no sentido corrente da palavra da Igreja Católica Apostólica Romana.

De maneira que [de] um fatozinho mínimo saía faísca de um dito de espírito. Entre o rei e o pobre mutilado esse dito de espírito era uma faísca do gênio da França.

Sobre o título e público-alvo do livro da Nobreza, Veneza, exemplo de elite – Dr. Plinio Corrêa

3-XI-1992 RNob

00:00 Alvo do livro: nobreza, elites, e os hostis
02:20 Razão do Título e público-alvo do livro da Nobreza
04:46 Veneza como exemplo de elite
09:10 Comércio, atividade plebéia
10:50 Característica do nobre: holocausto em relação ao bem comum
11:05 Veneza: do comércio ao mando. Cultura e arte por gerações até a nobreza

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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Para palavras desconhecidas, ver glossário https://cruciferos.wordpress.com/glossario/

ACESSE A TRANSCRIÇÃO: https://cruciferos.wordpress.com/2021/06/30/sobre-o-titulo-e-publico-alvo-do-livro-da-nobreza-veneza-exemplo-de-elite-dr-plinio-correa/

Significado das Siglas https://cruciferos.wordpress.com/significado-das-siglas-das-fontes/

Santa Bibiana, rogai por nós!


Depois da magnificíssima introdução musical e do magnífico discurso de D. Luís ontem à noite, nós devemos começar hoje o estudo do livro da nobreza e das elites intermediárias.

Para que o estudo do livro seja bem feito, é preciso os Srs. tomarem em consideração o que é que é o livro.

  • O livro do SDP sobre a nobreza destina-se a uma ação concreta diante de um público profundamente contrário à nobreza

Não é um livro teórico sobre a nobreza em tese, mas é um livro que se destina a uma ação concreta diante de um público profundamente contrário à nobreza, como é a grande parte do público contemporâneo. E a parte que não é contrária, tendo, entretanto, preconceitos contra a nobreza, que se encontram até nas próprias fileiras da nobreza. O problema do livro consiste não só em explanar o que é a nobreza, mas até principalmente em visar esses preconceitos, em visar aquilo que está na cabeça das pessoas e por onde elas têm uma prevenção contra a nobreza. Enquanto essa prevenção não for destruída, toda a exposição sobre a nobreza corre o risco de ser recebida com preconceito, com hostilidade e, portanto, não alcançar resultado.

Então, o começo do livro, desde o título já, tem este intuito de começar por focalizar o assunto, de maneira a que o leitor presumivelmente hostil se encontre nas melhores condições possíveis para acolher o livro.

Por que o leitor presumivelmente hostil?

  • É preciso agir sobre os que são hostis, ou para trazê-los a nós, ou para fazer com que eles respeitem a nossa tese

Porque os que são favoráveis, os que são simpáticos, já estão meio persuadidos e não é preciso um grande esforço de argumentação para levá-lo conosco. É preciso agir sobre os que são hostis, ou para trazê-los a nós, ou para fazer com que eles respeitem a nossa tese; que compreendam que ela se baseia em argumentos muito respeitáveis, muito sérios e que, portanto, não pode ser tratado assim como qualquer coisa; com que eles fiquem na dúvida: “Quem sabe se os favoráveis à nobreza têm razão?”. Com tudo isto se ganha terreno e este livro foi escrito para ganhar terreno dentro de uma operação de Contra-Revolução. De maneira que já o título do livro corresponde a isso.

Se os Srs. consultarem o título, encontrarão que ele é este: “Nobre e elites intermediárias nas alocuções de Pio XII à Nobreza romana e ao Patriciado romano”. O título é quase completamente esse, se não é exatamente esse.

  • “Nobreza e elites tradicionais análogas nas alocuções de Pio XII à Nobreza e ao Patriciado romano”; por que esse título?

Por que esse título? Cada coisa tem a sua razão de ser.

Dizia — e eu costumo citar isto porque acho um pensamento muito importante — dizia o velho Adenauer, que foi presidente do conselho de ministros da Alemanha logo depois da II Guerra Mundial, um homem democrata-cristão, que, portanto, não afinava conosco em muitíssimas coisas, mas que disse e fez algumas coisas boas: [ele dizia] que a primeira tarefa que deve colocar diante [de] si todo homem que está constituindo uma corrente de pensamento, está constituindo uma corrente política, é de colocar de seu lado aqueles que já pensam daquele jeito ou que estão muito próximos de pensar daquele jeito. Depois disso vêm as outras preocupações.

Como é natural, é na nobreza que se encontra a maior porcentagem dos favoráveis à nobreza, de maneira que então convém atrair a simpatia da nobreza para colocar tanto quanto possível os membros dela no nosso campo. E por causa disso o livro se intitula “Nobreza”, e a palavra nobreza figura no título com destaque. Um destaque tão grande, que parece ser o único título do livro: a palavra nobreza. Isso de tal maneira, que mesmo no nosso linguajar cotidiano ao se falar desse livro, diz-se o “Livro da Nobreza”. Por quê? Porque é a idéia que mais salta aos olhos e é realmente o tema preponderante de que trata o livro.

  • O que é que é uma elite? O que é uma elite tradicional? O que é uma elite tradicional análoga?

Logo depois vêm as preocupações. Depois de falar em nobreza, fala em elites tradicionais análogas.

O que é que é uma elite? O que é uma elite tradicional? O que é uma elite tradicional análoga? Cada uma dessas palavras tem seu propósito dentro dessa titulatura.

A elite é um escol social. Quer dizer, é um grupo de pessoas que se relacionam entre si a vários títulos, porque exercem uma atividade comum a todas elas, esta atividade é uma atividade que lhes dá, pela natureza das coisas, uma participação no mando — por isso é que é elite —, e não só no mando mas na influência. Então, uma classe que tem mando e influência em razão de certas atividades comuns, essa classe constitui elite.

Neste sentido da palavra, nós podemos ver — eu já mencionem esse exemplo aqui, tenho mencionado várias ocasiões — a nobreza veneziana.

  • A nobreza veneziana

Veneza era um porto de mar muito importante no Mar Adriático. Comercialmente importante, mas por isso mesmo também politicamente importante. Por que razão? É porque o oriente do Mar Adriático era infestado pela marinha dos maometanos, todo o norte da África estava ocupado por maometanos. Eram maometanos os que tinham ocupado a Ásia Menor, com raras exceções das gloriosas minorias de maronitas, de melquitas, etc., que em próprio território árabe continuavam fiéis à Igreja Católica e sofriam por causa disso duras perseguições. Os Balcãs não eram árabes, mas todo o litoral do norte da África e litoral da Ásia Menor era árabe.

Eles também faziam os seus comércios, os seus navios singravam pelo Mar Mediterrâneo. Esses navios, quando transportavam riquezas, iam acompanhados de navios de guerra, quer dizer, navios preparados especialmente para o combate. O comércio e a guerra eram atividades simultâneas. Por causa das razões que eu disse, o comércio devia constantemente ser acompanhado por guerreiros, por navios de guerra, e esses navios comerciais eram, ora maometanos, de um lado, ora das nações católicas, de outro lado. Mas preponderantemente de Veneza, que preparou uma esquadra enorme de navios de guerra e mercantes. Portanto, se os navios de guerra dela obtivessem uma supremacia no Mar Mediterrâneo, essa supremacia não podia ser uma supremacia meramente comercial, era uma supremacia também política. Porque as marinhas de guerra dela venciam as marinhas de guerra dos países maometanos, e com isso o pêndulo da influência se inclinava para o lado de Veneza.

A classe que organizou isso em Veneza foi uma classe de homens de comércio. Eles não fizeram isto com uma intenção como fizeram os navegantes que vieram à América para evangelizar a América e para tirar dinheiro — quer dizer, uma dupla intenção: encher os bolsos de ouro, uma intenção; encher o Céu de santos, uma outra intenção —, mas eles agiram com a intenção preponderante de encher os bolsos de ouro. Se fossem santos para o Céu, tanto melhor. A intenção de Veneza era muito menos santa do que era a intenção dos países ibéricos.

  • Por que o comércio era uma atividade considerada plebéia?

Eram comerciantes, portanto, com espírito de ganância quase exclusivo, que caracterizava os bons comerciantes daquela época naquela zona, e o comércio era uma atividade que era considerada plebéia.

Por que é que era considerada plebéia essa atividade?

Não porque o comércio não tivesse importância, mas é porque o comércio é uma atividade que o indivíduo exerce para benefício próprio. Quando ele exerce para o benefício próprio, ele não está exercendo para o bem comum. Se ele não está exercendo para o bem comum, não há desprendimento no ato de comércio, há a ganância. Uma ganância que pode ser justa não é infamante, mas há ganância. E, portanto, não se pode dizer: “Que nobre esse homem que manteve hoje durante o dia todo funcionando sua papelaria.” Vender lápis, vender borracha, vender tinta, vender blocos, etc., é uma atividade honesta. Nobre não é, porque não há nenhum ato de sacrifício, de holocausto em relação ao bem comum.

  • O que caracteriza a nobreza e a elevação, é o holocausto em relação ao bem comum

E o que caracteriza a nobreza e a elevação, é o holocausto em relação ao bem comum.

Portanto, eles não eram nobres, mas eles constituíram uma classe de comerciantes riquíssimos num tempo em que o movimento intelectual do Humanismo e da Renascença, movimentos maus que tinham um ou outro filão — pelo menos quanto ao Humanismo — no qual filão tinha um ou outro traço bom. Esses dois movimentos se desenvolviam na Itália enormemente, com um desenvolvimento enorme das artes e da cultura, e por causa disto uma facilidade enorme para esses comerciantes de se aproveitarem de seu dinheiro para construir para si mansões, palácios, etc., bem à beira daquele mar onde flutuavam as naus que eles iam encher de mercadorias vindas do Oriente. E às vezes do Oriente remoto, até da China e da Índia. O estreito de Suez não estava cortado como está hoje, então os navios da Ásia não podiam atravessar e entrar no Mediterrâneo, mas havia um comércio. Os comerciantes paravam no Oriente Médio ou no Egito e dali vendiam para os venezianos aquilo que era necessário, e os venezianos vendiam para eles aquilo que o Ocidente produzia e que eles não tinham. Era um comércio.

  • Uma classe plebéia que, tendo o mando e a influência, tornou-se uma classe análoga à nobreza, e em razão desta analogia acabou se incorporando à nobreza

Mas aconteceu que, dada a Renascença, dado o Humanismo, esses palácios se encheram de bom-gosto, se encheram de distinção. E se pode dizer que a gaiola não modela o passarinho, mas a casa modela o homem. E uma família que reside num alto palácio ornado por pessoas do maior gosto, do maior equilíbrio artístico durante uma, duas, três gerações, acabam tendo filhos enobrecidos pela cultura. A casa os modelou. Os netos dos primeiros comerciantes — ávidos como os avós e às vezes mais — tinham todo o trato, tinham toda a gentileza, tinham todo o tônus dos nobres e começaram a se casar com os nobres, constituiu-se uma nobreza. Mas era no começo uma analogia com a nobreza. Classe muito rica plebéia, mas análoga à nobreza porque ela tinha em Veneza o mando, ela tinha em Veneza a influência, ela era indiscutivelmente a primeira classe de Veneza. E tendo o mando, tendo a influência, tendo adquirido o padrão humano que é próprio a quem está no alto, eles se fundiram com a nobreza.

Então é uma classe análoga à nobreza, que em razão desta analogia acabou se incorporando à nobreza.

Saint-Simon, Lenôtre, papel das ocasiões na cortesia, fatinhos sobre caridade – Plinio Corrêa de Oliveira

13-3-1969 RNO.

Com a presença prestigiosa de D. Pedro Henrique, então chefe da casa Imperial do Brasil.

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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Significado das Siglas https://cruciferos.wordpress.com/significado-das-siglas-das-fontes/

Santa Bibiana, rogai por nós!


Os senhores querem ver como isso é católico e como isso se conservou na Igreja? Basta os senhores considerarem o seguinte: um bispo quando se paramenta, um papa quando se paramenta. Era uma honra ajudar o bispo a paramentar-se. Era uma honra ajudar o Papa a paramentar-se. E eram, altos prelados escolhidos para isso, que ajudavam para isso. Por quê? Porque era a expressão hierárquica do serviço.

Quer dizer, era toda, portanto, uma sociedade na qual essa hierarquização se fazia de um modo muito pronunciado, de um modo muito acentuado, que condicionava todos os costumes.

Agora, as ocasiões. Não falo mais de graus, mas as ocasiões: quando se tratava de fazer… Havia uma distinção muito forte entre três ocasiões: as ocasiões de gala, as ocasiões solenes; depois, as ocasiões de cerimônias e as ocasiões comuns.

A ocasião de gala – que é o que Saint-Simon chama de “ceremonie”, que não tem em português propriamente o sentido da cerimônia francesa – era, por exemplo, para fazer uma visita a um personagem de alta categoria, em grandes circunstâncias da vida dele. Por exemplo, luto, um grande luto. Então, havia o traje de corte para isso, que é um traje particularmente brilhante. Alguns trajes de corte eram até arcaicos, capas, mantos, com lacaios carregando etc., etc.

Depois, as visitas propriamente de cerimônia correspondem ao que se chama uma visita de cerimônia, ainda hoje. Quer dizer, visitas a pessoas que a gente conhece pouco, e que são de muita distinção.

Depois, a intimidade no trato comum.

A ideia falsa que a pessoa tem é que, nas ocasiões de gala, as pessoas tomavam uns ares mais arrogantes. Essa é a gala do cafajeste. Na ocasião de gala, a pessoa tomava um ar solene; mas era, exatamente, quando a maior amabilidade se supunha, da parte das pessoas. Era a ocasião de ser mais amável; não de ser mais arrogante. Todo mundo tem ideia de que isso é arrogância.

Uma era a atitude do homem na ocasião de gala, quer dizer, pêsames de gala: havia um traje especial, havia um modo especial de cumprimentar, reverências especiais; tudo era especial para essa ocasião.

Outro era para fazer os mesmos pêsames para uma pessoa de categoria menor, para a qual a gala não se punha. Já é coisa muito menor. Quer dizer, tudo era graduado conforme as circunstâncias.

Os senhores encontram aí uma diferença profunda no trato de hoje em dia, evidentemente. E encontram a seguinte ideia: quanto mais eu admiro uma pessoa, por alguns desses títulos, mais eu devo me inclinar diante dela. Essa ideia é desconcertante para o moderno. Agora aqui entra o desconcertante. Quanto mais eu me inclino diante dela, tanto mais eu participo dessa coisa boa que tem nela. Isso que é desconcertante para o moderno.

Eu dou aos senhores uma aplicação. Os senhores imaginem uma pessoa que fosse falar com, não sei, vamos tomar uma figura do tempo de Luís XVI, que era muito admirado no tempo de Luís XVI, talvez exageradamente, Bailli de Surenne; era grande navegador lá das Índias etc., e considerado um herói. Quando ele chegou à corte de Luís XVI, depois de ter sido feita a navegação dele às Índias, ter tomado colônias aos ingleses etc., etc.; contra todo o protocolo da Corte, o irmão do rei, conde de Artois, levantou-se para falar com ele, falou com ele de pé, como se ele fosse um príncipe. A ideia era que o conde de Artois, fazendo isso, não se rebaixava, mas mostrava compreender o valor do homem. E mostrando compreender o valor do homem, tinha algo do valor do homem; porque aquilo que a gente compreende e admira, tem algo daquilo.

Não sei se exprimo bem essa ideia, ou deveria exprimir melhor. Se não estiver clara, dou um outro exemplo, talvez fique mais clara a ideia.

Os senhores tomem uma pessoa, por exemplo, que vai tratar com um grande pintor. A pessoa trata o grande pintor com todas as atenções devidas a um grande pintor. A ideia que dá é de que essa pessoa compreende o valor de uma grande pintura; já que respeita tanto um grande pintor é porque compreende o valor de uma grande pintura. E se compreende o valor de uma grande pintura, é porque algo do valor da grande pintura existe nela; porque quem entende de uma grande pintura tem algo do valor de um grande pintor e de uma grande pintura. Não sei se está claro o exemplo, ou se queriam que eu explicasse melhor.

Então, mostrar, ter o respeito para tudo quanto é respeitável e sua admiração para tudo quanto é admirável, é crescer até essas coisas; não é diminuir. Isso está claro para a geração muito nova, ou deveria explicar melhor?

Então, também, quem soubesse tratar uma rainha com aspecto muito nobre, muito elegante, como era Maria Antonieta; quem soubesse tratar Maria Antonieta, inteiramente como ela devia ser tratada, dava provas de que era um homem de Corte, que sabia o apreço que se devia dar a uma pessoa como ela e, portanto, entrava, um tanto, na linha dela. Quem faltasse com o respeito para ela, não era tido como um colosso, era tido como um cretino.

[…] que entrou para falar com a rainha Elisabeth e deu um “shake hand” e ficou sorrindo. Há pouco eu comentei. Isso, antigamente, diriam: Que horror! Que besta quadrada! Ele não entende que é uma rainha?!

Na mentalidade moderna, não. Ele achatou a rainha. Então é um colosso! Não sei se os senhores percebem a inversão completa de ideias que entra nisso.

Daí também o fato de que as reverências mais profundas, que indicavam maior respeito eram aquelas que eram feitas pelos homens de Corte, os fidalgos. Era porque eram homens que sabem respeitar, que tem a arte do respeito.

Para acabar a parte do respeito, eu diria o seguinte: é que isso só existe numa sociedade quando existe exatamente esse conjunto de virtudes, ao menos em estado de tradição; senão por princípio, pelo menos como reflexo. No tempo de Luís XIV, isso como virtude, já estava se enfumaçando; mas como reflexo, ainda existia. Era um hábito bom que resultava de um tempo anterior onde houvera virtude. Não se pode dizer que essa virtude houvesse no tempo dele, mas era uma tradição que restava. E que é o bom impulso de todo mundo, por humildade, por justiça de admirar tudo que é admirável. Que é o contrário do espírito igualitário moderno.

Agora, quanto ao afeto. As pessoas que imaginam que a cortesia do Ancien Régime era uma cortesia puramente feita de sorrisos, não entendem nada do negócio. Era uma cortesia que dava, verdadeiramente, trabalho.

Um exemplo que o Saint-Simon conta, naturalmente exemplo raríssimo. Luís XIV foi passar uma noite, ou uns dias não me lembro bem, no castelo do Duc d’Antin, que era um filho da madame de Montespan. E então o duque d’Antin fez a ele as honras do castelo, mostrou onde era, enfim, Luís XIV olhou pela janela e viu uma fileira de árvores e disse o seguinte: “É bonita a fileira” – uma alameda, árvores de um lado e de outro – “mas ela ficaria mais bonita ainda se fosse em tal lugar assim”. O duque d’Antin não disse nada. Na manhã seguinte, quando o rei acordou, as árvores estavam na outra fileira. Para fazer a vontade do rei.

Quer dizer, ele mandou gente trabalhar a noite inteira. O Saint-Simon não indica se mandou serrar as árvores e espetar no chão no outro lugar, ou se mandou extirpar as árvores, mas – não é com qualquer árvore que a extirpação é possível – na manhã seguinte as árvores estavam do outro lado. Os senhores podem imaginar o gasto, o trabalho, a amolação; ficar a noite inteira, acordado, vigiando etc., etc., era apenas para determinar um sorriso do rei.

Os senhores vão dizer: “Bajulação!” Pode ter entrado bajulação, mas quem leve isso meramente à conta de bajulação, não compreendeu o prazer de fazer prazer, que era uma das molas da vida de antigamente.

Isso que, naturalmente, com o rei tomava esses casos extremos, citam-se cem exemplos de outra natureza em casos menores.

Alguém que elogia um objeto qualquer de uma casa em que está em visita, toma a carruagem para voltar para sua própria casa e, quando chega em casa, encontra aquele objeto lá. O dono tinha mandado a cavalo, mais depressa. Era um presente, para fazer uma gentileza. Perdeu o objeto, e o objeto custa dinheiro. Mas era o prazer de ter causado prazer.

A arte, por exemplo, das festas de improviso. Receber um visitante ilustre no seu castelo, – o castelo é sempre no campo, com um parque etc. – receber um visitante ilustre no seu castelo, improvisar festas de que ninguém pensou, novas completamente, e preparadas com meses de antecedência, originais para aquele homem.

Então, por exemplo, está se recebendo um general; termina o jantar, o dono do castelo diz: “general, vamos passear um pouco pelo parque?”

Em um dos passeios pelo parque, de repente, de um lugar, pulam vários soldados com o mesmo fardamento com que estava a guarda dele no dia em que ele ganhou tal batalha. E prestam a ele a honra. Ele pensa que é tudo. Não! Uma orquestra está perto, toca uma música que é a marcha daquele dia e, depois, aparece um ator da “Comedie” ou uma atriz, e recita uma poesia original para a ocasião, elogiando o feito dele em tal batalha.

Quer dizer, os senhores estão percebendo: isso foi pensado meses antes, deu trabalho, deu despesa. Mas não se diz o que se diria hoje: que abacaxi receber um homem desses! Mas, pelo contrário, há uma alegria em causar alegria.

E isso é assim, mais modestamente, em todas as categorias sociais. Faz parte da “douceur de vivre” [doçura de viver]. Eu me lembro, num livro do Lenotre, chamado “Gens de la Vieille France”, há um capítulo especialmente consagrado a essa “douceur de vivre”. Ele conta, por exemplo, casos assim. Uma pessoa que vai a um hotel em Calais – é um porto aonde se chega vindo da Inglaterra – desce um inglês, – que conta isso nas memórias dele – mas é um “quidam” qualquer, num hotel qualquer. E elogia muito um vinho que se serve. Naquele tempo, quem viajava de carruagem levava um farnel com garrafas, com uma porção de coisas. Quando o sujeito abre, encontra três, quatro, meia dúzia, daquelas garrafas, que o hoteleiro tinha mandado pôr, sem cobrar, dentro da carruagem para o homem; pelo prazer de ser amável! Mais nada! Contam-se milhares de fatos assim.

E o presente! O presentear recíproco chega a ser um hábito comum da vida.

Outra coisa: hospedar-se na casa dos outros. O hotel era raríssimo naquele tempo. As pessoas, quando iam a Paris, se hospedavam nas casas das que tinham casa. As casas tinham um quarto de hóspedes; e era normal, quase o ano inteiro, ter hóspedes presentes, tratados o tempo inteiro com a maior distinção, a maior gentileza; e, quando iam embora: presentes. O hóspede também, ao ir embora, deixava presentes.

Um caso que diz tudo. Uma duquesa – não me lembro qual era, creio que contei esse caso aqui – numa noite, ela dormiu e, entre a cabeceira da cama dela e a parede, havia um cortinado; quando despediu sua criada, ficou sozinha – os senhores têm que imaginar aquelas camas esplêndidas, com degraus, com aquele dossel com plumas etc. – ela vê que alguém se move atrás da cama. Susto! Aparece um homem com uma pistola na mão e diz: “Não se mexa!” E diz: “Madame, eu sou Cartouche” – Cartouche era o mais célebre bandido da época – “eu estou morrendo de fome, a senhora vai mandar vir coisas para comer; e champanhe, porque quero beber champanhe. Eu vou me esconder atrás da cortina, a senhora toca a campainha, chama sua criada, manda servir essas coisas. Manda a criada embora, se tranca e, quando a senhora estiver trancada, eu vou comer”.

Havia uns cordões que passavam pelo teto e tocavam um sino, não havia eletricidade. “Paam”! Chega a criada. Ela: “Olha, me traga perdizes, não sei mais o quê etc., e champanhe. Eu estou com fome”. A criada terá ou não terá estranhado, não sei… Naturalmente trouxe o que ela mandou. Ela foi, levantou, trancou, e disse ao Cartouche: “Coma!” Ele comeu.

Comeu e prometeu enviar a ela um presente. No dia seguinte chega em casa dela um caixote de magníficas caixas do melhor champanhe que Cartouche mandava para a duquesa. Aí os senhores compreendem todo o resto. Até onde essas coisas entranhavam a vida.

Ela foi e bebeu o champanhe. Não teve, por exemplo, medo de que estivesse envenenado, o que se teria hoje. Bebeu o champanhe, estava ótimo etc., etc. A polícia soube, veio fazer investigação de onde é que vinha esse champanhe. Resposta: tudo indica que tenha sido roubada de tal magistrado assim, do presidente do que seria o Supremo Tribunal do tempo, o Parlamento de Paris. O presidente do Supremo Tribunal – menos elegante do que o bandido – move um processo à duquesa para obter indenização por ter bebido o champanhe dele. E ela bate o pé e diz que não está provado que isso era dele. E sai um processo, cujo desfecho eu não conheço. Cartouche tinha mostrado até onde ia o gosto do presente e da delicadeza do Ancien Régime.

Para quê um bandido fazia isso? Era um bandido, acabou morto, e merecia a morte que teve. Mas é um tal hábito da doçura de viver, que por um impulso natural, o bandido tem reflexo de gentil-homem. Eu creio que poucos casos poderiam dizer tão bem aos senhores até que ponto essa impregnação do respeito, da admiração e da suavidade de vida penetrava nas camadas mais degeneradas da sociedade. É uma espécie de triunfo disso, que é uma flor da civilização cristã, penetrar até na alma de um bandido.

Os senhores dirão: – “Ih, que coisa horrorosa Dr. Plinio está dizendo! Olha aí! Virtude num bandido!”

Agora pergunto: se eu dissesse: “Um bandido não tem nenhuma virtude”. – Que coisa horrorosa! – [diria] a mesma pessoa – Está dizendo que um bandido não tem virtude!

É ou não é verdade? Porque essa é a cabeça cretina do “heresia branca”. É tonto na ida e na volta. Não se aproveita para nada. É uma besta. Por quê? Porque virtude teológica verdadeira, o bandido não tem; se ele está em estado de pecado mortal, o bandido não tem. Mas pode ter bons hábitos e hábitos dignos de louvor. Por exemplo, os bandidos da Calábria que faziam esmolas com o dinheiro que roubavam. Roubar é mal-feito. Mas ter compaixão dos que precisam, é bem-feito. Isso que alguma pessoa dirá: “Pobre homem! Vai ver que tem mais caridade do que muito banqueiro!” Eu posso dizer, do Cartouche, que tinha mais cortesia do que muito burguês. Por que não? Está dito. Os senhores sabem qual é o reflexo de “heresia branca quando ouve isso? Ele fica com um nó, enjoado, embrutecido, não tem argumentos, se encafifa. Conseqüência: “Dr. Plinio é orgulhoso. Pronto!” Está aí uma bela resposta…

Bem, aqui fica uma comparação entre o Cartouche e o democrata cristão.

Está terminada uma ligeira exposição do Saint-Simon. Nós vamos passar às notícias do dia.

(Pergunta inaudível)

Por mais singular que seja, o senhor sabe bem toda a admiração que tenho pela Europa. A gente deve reconhecer que em algumas coisas da Europa, para alguns efeitos da Europa, existe qualquer coisa de barbárie, que se prolongou durante muito tempo com uma tal ou qual inocência.

Por exemplo, coisa chocante, desde os primórdios da monarquia capetíngea, a rainha devia dar à luz a criança, em público, e entrava no quarto dela quem quisesse; quem quisesse absolutamente; para ter certeza de que aquele era o herdeiro do trono, porque, enfim eram sempre pessoas capazes de herdar o trono. Agora, imaginem aquela carinha de criança… Como é que se podia reconhecer, depois, de um outro? Eu vejo nisso uma certa barbárie. Que é barbárie é porque vem desde o tempo dos bárbaros, por uma continuação ininterrupta. Eu acho que aqui está dito tudo. Há mais alguma pergunta? Alguma pergunta, meus caros?

(Pergunta: e aquela cortesia chinesa…)

Houve várias escolas de cortesia muito quintessenciadas. Houve a cortesia bizantina, houve a cortesia chinesa, japonesa – mais a chinesa do que a japonesa. Os romanos e gregos tinham certas fórmulas de cortesia. Mas o próprio de todos esses produtos nesses povos pagãos é de eles serem muito quintessenciados em algum ponto e apresentarem lacunas enormes em outros pontos. Em geral, o que a gente encontra, entre outros pontos de lacuna em todas essas outras escolas de cortesia antiga, é uma manifestação de respeito que se tributa muito mais ao poder do que verdadeiramente ao valor pessoal. Quer dizer, era objeto da cortesia quase exclusivamente aquele que tinha o poder político na mão; a cortesia voltada para o homem célebre, para o homem ilustre, muito menos.

Em Roma, na Grécia, por exemplo, havia matemáticos célebres, cientistas célebres que eram escravos; tratados como escravos e vivendo na senzala junto com escravos. Sem mais nem menos. E passando da matemática para limpar fechaduras e – não sei, – para tirar manchas de roupa; e voltando para a matemática. E não se tinha ideia de que uma monstruosidade dessa era uma injustiça. Às vezes, chegando até a divinização das pessoas. Tratando como deus, como semi-deus, etc. Então, com manifestações de respeito exageradas, até inumanas.

FIM DA GRAVAÇÃO PUBLICADA

O exagero, então, do salamaleque, por exemplo, que já perde a proporção que existe entre um homem e outro homem, por mais desiguais que sejam.

IMPORTANTE, PORÉM, FORA DO ÁUDIO OBTIDO

(Pergunta inaudível)

O espírito medieval, no fundo, era muito mais hierarquizado que o espírito do Ancien Régime. A única coisa que tem é que não houve tempo de se destilar tudo isso. A Idade Média morreu quando muitas dessas coisas ainda não estavam destiladas. Razão pela qual elas vieram se fixar depois, e, então, com uma certa nota mundana de gozo do prazer pelo prazer, e de vaidades que é o lado censurável dessas coisas. Entrou, então, muito. Vamos dizer, para a gente ter ideia do que seria a cortesia perfeita, seria preciso tomar o espírito sacral da Idade Média, imaginar como essas coisas teriam sido despidas do mundanismo que tinham nos tempos modernos. É uma ginástica de espírito difícil de fazer, mas que se pode chegar a entender.

(Pergunta: na questão da cortesia é preciso levar em conta também a virtude da pessoa, não?)

Ah! certamente e muito! Mas como a virtude, o saber – o talento e o saber estão na mesma ordem – depois, o nascimento, quer dizer, a condição social hereditária ou nova – porque eles promoviam muito os plebeus a nobres – eram como que tabelas de valores especiais dos quais a gente poderia ter hoje ideia os senhores imaginando, por exemplo, o trato que se daria a dois embaixadores, dos quais um é um homem de virtude insigne e o outro um homem de virtude comum.

Há uma coisa que se dá a um embaixador e que se daria a ambos; mas há uma outra coisa que se dá à virtude, e que se daria a um muito mais do que ao outro. A gente saberia como graduar – mesmo na pobreza de fórmulas de hoje – saberia como graduar isso. Sabendo bem que não se poderia dizer o seguinte: “Como tal porteiro de hotel é mais virtuoso que o embaixador, eu vou tratar, dando precedência a ele sobre o embaixador”. Isso seria uma fórmula revolucionária. Mas há uma forma de honra que, ainda hoje, uma pessoa educada sabe atribuir à virtude, e que não é a mesma que se atribui ao cargo. Isso, naquele tempo, um homem compunha ainda com mais arte do que hoje.

Não sei se eu respondo bem a sua pergunta. É por meio dos mil imponderáveis que formam o trato.

(Pergunta inaudível)

É curioso. Eu não conheço a liturgia oriental, nem história da liturgia para lhe dar uma resposta precisa. Mas, a primeira impressão que me dá o fato, é exatamente uma certa simplicidade meio patriarcal, meio pastoril. E é até bonito que tenha sobrevivido, porque essas reminiscências são tocantes, são bonitas.

(Pergunta inaudível)

É uma coisa que chama a atenção. Eu creio que a ideia de feudalismo entra muito nisso. Quem participa da condição de alguém, o serve; e o paramentando, quase que o integra. Eu tenho a impressão de que, no Oriente, isso é certo, não floresceu feudalismo nenhum. São civilizações sem feudalismo. Talvez isso tenha concorrido para o caso, no Oriente Médio e Próximo.

Saint-Simon, cortesia suscitada pela Igreja, senso de justiça e hierarquia social – Plinio Corrêa de Oliveira

13-3-1969 RNO.

Com a presença prestigiosa de D. Pedro Henrique, então chefe da casa Imperial do Brasil.

Transcrição:

Quadro: casamento de Luís XIV

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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Santa Bibiana, rogai por nós!


Saint-Simon (Louis de Rouvroy, duque de Saint-Simon 1675-1755) – acho que os senhores todos sabem disso – era um duque da Corte da Luís XIV e escreveu memórias caudalosas: oito volumes em papel de arroz, com umas mil e cem páginas cada volume. E quase que cada página contendo várias joias. Na França todo mundo lê Saint-Simon. É um escritor que não escreve muito bem, quer dizer, gramaticalmente falando pode-se fazer dele toda espécie de objeções. Mas ele é, apesar disso, um dos grandes escritores da língua francesa, porque é fraco na gramática, mas fortíssimo na literatura.

Ele tira de cada palavra um efeito extraordinário e quando não tem uma palavra adequada para dizer o que quer, ele cria um neologismo e põe o neologismo em circulação. Mas pela etimologia da palavra a gente percebe o que ele quer dizer e percebe que aquele neologismo era indispensável para o pensamento dele.

Um observador finíssimo, um homem capaz de, pelas minúcias, tomando em consideração minúcias, fazer interpretações muito sagazes. Mas, de outro lado, não era nem um pouco um pensador. Era um homem muito hábil no descrever, mas não tinha doutrina, não tinha grandes princípios. Tanto é que, quando a gente vai ver o furor dele contra as coisas do tempo dele, de algum modo, toma o que a política do rei Luís XIV tinha de igualitário. E ele pega com muita sagacidade a linha igualitária da política absolutista de Luís XIV.

Mas, quando a gente se pergunta até que ponto ele, Saint-Simon, tem uma filosofia anti-igualitária, que isso corresponde a uma doutrina? Não se vê claro a doutrina nele. E se a gente pergunta qual seria a sociedade ideal para ele, a gente tem a impressão de que, para o mundo corresponder ao ideal dele, era só dar alguns privilégios honoríficos aos duques, a cuja categoria pertencia ele, e acharia que estava tudo resolvido. Quer dizer, é um homem extraordinário no descrever, mas não é, de nenhum modo, um pensador, não é um homem de doutrina. É apenas um grande pintor de costumes de uma época. É o que foi nas memórias dele.

Agora, através da pintura, percebe-se a época e, então, descrita genialmente.

E passa também a cortesia. E é isso a cortesia no Grande Século, do século de Luís XIV. Quer dizer, a cortesia francesa quando atingiu talvez o seu auge.

Pode-se discutir se foi no tempo de Luís XIV ou no tempo de Luís XV. A meu ver, no tempo de Luís XV ela foi uma cortesia mais delicada. No tempo de Luís XIV foi uma cortesia mais elevada. Mas, sem dúvida, o ápice da cortesia francesa se deu nesses dois reinos: no reinado de Luís XIV e no reinado de Luís XV. Ele pegou o reinado de Luís XIV e uma parte do reinado de Luís XV. Portanto, está extraordinariamente bem situado para descrever isso.

Eu não posso aqui fazer o que tenho [de] material feito para isso, que é tomar o Saint-Simon – que tenho todo anotado – e começar a dar para os senhores as cenas. Porque, para fazer a seleção das cenas, eu deveria ter uns 15 dias de trabalho, sem interrupção. Por outro lado, precisaria, para depois [de] dar as cenas, dar um simpósio; porque são tantas e constituem, no seu conjunto, uma coisa tão rica que são quase indissociáveis umas das outras, as cenas de cortesia.

De maneira que tenho que me reportar, mais ou menos, às ideias correntes que existem sobre a cortesia do “Grand Siècle”, e fazer uma análise e interpretação doutrinária dessa cortesia, com um objetivo que vou expor daqui a pouco.

A única coisa que eu queria dizer, para explicar um ou outro comentário que vou fazer, é que essas maneiras não morreram nos séculos XVII e XVIII; tiveram uma espécie de sobrevida depois da Revolução Francesa e chegaram, de algum modo, em alguns ambientes, alguma coisa delas chegou até nossos dias. De maneira que eu ainda pude conhecer algumas pessoas que tiveram cortesia à antiga e que eram pálido reflexo da velha cortesia do “Grand Siècle”.

De maneira que, às vezes, poderei, num comentário, distraidamente, citar quer um fato do século XVIII, quer um fato do século XIX, quer um fato de autoria de pessoas que viveram no século XX, mas que se formaram ainda de acordo com a escola do século XIX. Porque essa é uma tradição que foi se depauperando ao longo dos tempos, mas que foi vivendo e, enquanto viveu, foi linda! Hoje, um ou outro raro sobrevivente conserva essa tradição, mas é uma coisa que a gente tem que procurar com não sei que lente de precisão para encontrar. De maneira que, então, um ou outro comentário que eu faça sobre fatos mais recentes, deve reportar-se a isso como sendo continuação de uma determinada tradição.

Eu queria fixar a importância desse comentário. A importância desse comentário é, em primeiro lugar, de dar uma compreensão do que seja a verdadeira cortesia para nós termos em vista o mal que a Revolução faz ao mundo eliminando a cortesia. Porque a gente pode dizer que a cortesia está quase eliminada do mundo de hoje.

De outro lado, entretanto, há uma coisa que apresenta um interesse maior e eu queria insistir nesse ponto. E é o seguinte: é que, através disso, nós conhecemos melhor a doutrina católica.

Um dos modos melhores pelos quais eu cheguei a conhecer a doutrina católica foi exatamente esse: tomando as coisas como eram nos séculos em que a Igreja influenciava os costumes, tomando esses costumes, estudando e procurando explicá-los pela doutrina católica. Quer dizer, pondo-me, a mim mesmo, a seguinte pergunta: em que sentido, de que maneira, em que termos é que isto, que nesse século se praticava, deve ser entendido como uma expressão da doutrina católica?

Depois de me ter dado essa resposta a essa pergunta, eu então passava a outra parte do estudo: o que quer dizer a Igreja quando Ela diz tal coisa? Não quer dizer o que o “heresia branca” diz, mas quer dizer tal coisa assim.

Vou dar aos senhores um exemplo, e os senhores entenderão perfeitamente.

Os senhores tomem o seguinte. Os senhores encontram um número enorme de padres que dizem o seguinte: a senhora dona de casa deve levar a afabilidade para com suas empregadas tão longe quanto possível; e, fazendo assim, ela pratica um ato de caridade cristã.

O princípio, formulado como está, coloca a alma do católico numa espécie de bipartição. Porque, de um lado, a afabilidade é uma virtude; e toda virtude deve ser levada tão longe quanto possível. Logo, a dona de casa deve ser tão afável quanto possível com a empregada. Então, o princípio é verdadeiro.

De outro lado, nós sentimos bem que, se for ser afável como o padre recomenda, a dona de casa se nivela completamente com a empregada. E que, ele no fundo, sob a fórmula afabilidade, de fato está recomendando uma equiparação na igualdade.

Nós ficamos sem saber como é que o princípio se aplica; o que o princípio quer dizer, praticamente.

O mesmo se pode dizer da afabilidade do professor com os alunos. O professor não deve ser tão afável quanto possível com aos alunos? Deve. Porque a gente deve ser tão afável quanto possível com todo o mundo. Mas, se o professor for ter com os alunos todas as formas e graus de afabilidade, o aluno monta no professor. Agora, então, é caridade cristã deixar-se montar?

Resposta do padre: “É. Tenha pena dele, coitado! Trate com bondade, com mansidão. Não seja orgulhoso querendo afirmar sua superioridade de professor, porque assim você terá imitado Nosso Senhor Jesus Cristo, que se deixou esbofetear e arrastar etc., etc.”

A gente fica assim: “Bom, mas enfim, como é? Eu não vou imitar Jesus Cristo? Jesus Cristo, de fato, não fez isso?”

Então, qual é o modo que a gente tem? É procurar ver, na época era que havia uma civilização cristã, qual era a afabilidade dos patrões com os empregados, para ver como é que esse princípio se entendia. Daí, a gente vai ler o Catecismo e entende de um outro modo do que está nos subentendidos de hoje; não no que está expresso, mas no que está oculto hoje.

Eu me lembro, por exemplo, de ter visto várias vezes minha avó, que era uma senhora muito imponente, ela era imponente até cochilando na cadeira de balanço, – que é uma cadeira de balanço que está hoje no meu escritório – ela era incapaz de deixar cair a cabeça de um modo que não fosse correto. Quando deixava cair, por negligência, um chale, o chale caía no chão de modo bonito! Eu não sei o que acontecia com ela; mas, comigo, por exemplo, se eu tiro o capote, o capote cai de um modo horrendo! Se ela tirava, aquilo caía… Ela fazia crochê: rolava no chão aquele novelo, rolava de um modo bonito, formava um fio bonito. Tal era o modo de ser dela, que tudo nela caía com harmonia.

Quantas vezes vi minha avó – umas dez vezes, mais – sentada, com aquela linha dela, fazendo crochê e conversando com uma preta, preta como piche, que foi escrava dela, ali junto. Eu já contei essa cena aqui várias vezes. Mas precisava ver como ela conversava e como conversava a preta. Como a preta conversava com veneração com ela e como ela tinha bondade com a preta. Como a afabilidade dela era uma afabilidade que descia das nuvens, por circuitos cada vez mais largos, até tocar a preta. Embora as duas estivessem sentadas a um metro uma da outra ou um pouco mais, que distâncias históricas, que distâncias culturais, que distâncias psicológicas havia entre ambas e como ambas respeitavam essas distâncias!

Então, eu compreendi como é que se pode levar tão longe quanto possível a afabilidade com uma empregada! Quer dizer, a gente, conhecendo o passado, interpreta melhor o princípio do Catecismo de nossos dias.

Esse processo de reconstituição catequética está claro, ou alguém gostaria de me fazer alguma pergunta a esse respeito? Quem quiser, estou à disposição.

(Aparte: Houve um caso no colégio em que eu estudei que mostra bem (?).

Aí que está! É sempre assim. A autoridade que não se respeita, se deprecia. E o que se deprecia dá nojo, e é pisado ao pé pelos outros. Não tem conversa.

Então aqui vem a necessidade, a conveniência de uma explicação da cortesia antiga, com os princípios doutrinários que estão por detrás, porque, então, a gente compreende melhor a doutrina da Igreja.

Então, são dois objetivos que tenho em vista. O primeiro objetivo, mais próximo, é a valorização da cortesia na qual, hoje em dia, se tem a tendência a ver apenas um conjunto de fórmulas peremptas. A outra coisa é o método de elucidação da doutrina católica através do exemplo histórico. Aqui é um exemplo de aplicação desse método. São as duas coisas que pretendo desenvolver hoje à noite.

O que eu quero dar a entender por cortesia? A cortesia, hoje em dia, é entendida num sentido muito estrito. – Pensei em escrever no quadro-negro, mas tenho impressão que dando bem esquematicamente dispensa o quadro-negro. Dei, portanto, o sentido, qual é o interesse da matéria. Agora vou dar a definição do vocábulo sobre o qual vou fazer o estudo.

A cortesia, hoje, é tida, ao menos aqui no Brasil, – eu sei se a palavra existe em castelhano, mas não sei bem que sentido tem em castelhano – aqui no Brasil, na linguagem contemporânea, conterrânea, a cortesia é uma expressão que significa um conjunto de fórmulas que a gente emprega – fórmulas convencionais, o mais das vezes – que a gente emprega no trato com os outros. Além das fórmulas, a palavra cortesia tem um sentido um pouco mais largo: é um conjunto de atitudes. Por exemplo, a cortesia manda que a gente receba uma pessoa em casa com expressão afável, risonha. Não é uma fórmula, mas é uma atitude.

Eu tomo a palavra cortesia num sentido mais amplo: a cortesia é uma excelência no trato com as pessoas. Não é, portanto, apenas um conjunto de fórmulas ou de atitudes, mas é todo o trato. O ter um trato excelente com as pessoas, isso se chama cortesia.

Como os senhores estão vendo, a cortesia é muito mais do que uma simples polidez, porque o que acabo de dizer em cima é a polidez. A cortesia hoje se identifica com polidez.

Mas a cortesia, no sentido mais profundo da palavra, é muito mais do que isso. É, ao tratar a pessoa, saber tratá-la excelentemente.

O que isso importa? Importa em conhecer inteiramente a situação da pessoa a quem eu trato. Depois, conhecer a minha própria situação, sem megalice, bem entendido. Depois, conhecer a ocasião em que estou tratando com a pessoa. Quer dizer, se é um trato de negócios, se é um encontro formal, se é um encontro fortuito na rua, se é uma visita de pêsames, se é uma visita de felicitações etc. Quer dizer, eu tomar consciência da ocasião em que estou tratando com a pessoa. Tomar em consideração os antecedentes de minhas relações com a pessoa. E tomado tudo isso em conjunto, tratar a pessoa excelentemente. Quer dizer, ter uma atitude perante a pessoa, todo meu comportamento perante ela ser excelente. Isso é cortesia.

Como os senhores estão percebendo, a cortesia supõe, portanto, muito pensamento; quer dizer, supõe muito a análise da vida. A verdadeira cortesia supõe, da parte da pessoa, uma verdadeira análise da vida.

Um exemplo entre mil outros. A gente encontra, por exemplo, um militar que se tornou ilustre na guerra, um general que brilhou na guerra. Mas esse general ainda está na força da idade e está dormindo sobre seus louros. A gente trata esse general de um modo. Outra coisa é esse general tendo atingido uma idade provecta, já tendo entrado para a história, estando também meio velho. A gente trata o general de outro modo. Há um certo modo mais afável, um certo cuidado – há uma expressão francesa que é especial para isso, certo “menagement”, não sei bem como traduzir isto – que se deve ao mesmo homem em circunstâncias diversas da vida dele. Mudaram as circunstâncias, mudou o trato. A gente tem que conhecer tudo isso, analisar tudo isso, saber de que peso é tudo isso para saber tratar cada um como deve. Isso é o pressuposto da cortesia.

Nós vemos desde logo que a cortesia é uma virtude inerente às sociedades não igualitárias; ela não é possível nas sociedades igualitárias. Porque o igualitarismo é fazer tabula rasa de tudo isso. O igualitário não toma nada disso em consideração. Depois, nas sociedades igualitárias, os velhos querem parecer moços, os moços querem parecer crianças; quer dizer, toda a tabela de valores é contestada e invertida até. Resultado, as situações não existem, ou quase não existem, e a cortesia se torna quase completamente impossível.

Quer dizer, a cortesia é um procedimento no qual entram três virtudes católicas. Primeira, é a humildade. Mas em que sentido da palavra humildade? Nesse sentido: a humildade é a verdade. Não no sentido de dizer: “eu sou o último dos homens, sei que valho tão pouco quanto um lixeiro”. Eu sei que não é verdade! Quer dizer, é saber, a meu respeito e de cada um dos outros, a verdade. “O que é que sou? O que ele é? Qual é a situação em que nós estamos?” Etc. etc. Quer dizer, começa pela humildade nesse sentido da palavra.

Ela tem, conjugada consigo, a justiça. O velho princípio do Direito Romano “jus suum quique tribuere”: tributar, reconhecer a cada um o que é direito. Quer dizer, as pessoas desiguais têm direito a um trato desigual. E é um pecado contra a justiça tratar igualmente a desiguais. Isso é um pecado contra a justiça.

E depois, a caridade. A caridade, nessa aplicação, é uma forma do trato por onde a pessoa, embora conhecendo, finge ignorar certos lados fracos do outro. Quer dizer, vai além da justiça, porque a justiça é ali, no taco.

Eu conheço – acho que contei esse caso aqui, não me lembro bem – um caso de brincadeira de muito mau gosto, mas aí os senhores vão ver o que é caridade. Um senhor, um banqueiro – ou coisa que o dera, um banqueiriforme pelo menos daqui de São Paulo, que convidou um grupo grande de casais para jantar em cada dele, ele com a senhora dele. Ele vinha da Europa. E qual não foi o horror dos casais que iam chegando, vendo que ele estava com uma doença no nariz, uma doença horrorosa, uma protuberância no nariz, mas uma coisa medonha, uma carne horrível, nojenta! etc., etc. Várias pessoas que chegaram, chegaram dizendo – isso é a descortesia moderna: “Ó fulano! O que aconteceu com você?”

Em determinado momento, chegou um casal que cumprimentou como se não houvesse nada; tomou o choque, dominou-se mas não disse nada: “Como vai você?” etc., etc.. Entrou, sentou-se junto com os outros. Em certo momento, durante a conversa, ele tirou aquilo. Era uma coisa de borracha, mas que imitava a realidade perfeita, e ele estava normal. Era uma brincadeira de péssimo gosto! Na hora de se despedir, ele comentou com esse casal: “os únicos inteiramente educados foram vocês, porque foram os únicos que não me disseram nada”.

Por quê? Porque esse é o procedimento perfeito. Os senhores estão vendo o que é. É uma aplicação da virtude da caridade. Quer dizer, é perceber que seria desagradável para aquele homem, uma vez que ele está com aquele nariganga, estar fazendo comentários sobre o nariz dele, que ele preferia que a gente esquecesse do nariz. Então, a caridade, mas levada a um estado de finura. Aqui os senhores estão vendo o que é a caridade diferente de uma caridade – eu vou usar a expressão no seu sentido pejorativo – caridade de mera sacristia. O quanto entra de inteligência nessa caridade, quanto entra de tato; mas que é virtude, virtude católica, entra aqui no trato com os outros.

Há pouco eu tive um exemplo interessante, até me lembrei desse caso, entrando aqui no hall. O interessado me desculpe a referência. Mas fui cumprimentar Dom Pedro (pai de Dom Luís e de Dom Bertrand de Orleans e Bragança, n.d.c.) e vi que, se não dissesse nada a D. Pedro sobre o fato de eu estar de muletas, D. Pedro não me diria uma palavra também. A coisa passaria em branca nuvem. É como se deve fazer. Embora seja uma coisa passageira, acidental etc., etc., é como se deve fazer.

O que é? É uma finura da educação; mas que, no seu resíduo antigo, era uma aplicação do princípio do Catecismo. É preciso ver nisso não um mundanismo, porque não é; nisso tem muito mais profundidade, tem exatamente a virtude da caridade. A caridade leva a isso, a dissimular os defeitos dos outros por essa espécie de amor fraterno, requintado, “exquis”, que todos os homens se devem uns aos outros. Aqui os senhores estão vendo a perspectiva exata como vai se pondo.

Então, essas três virtudes juntas florescem muito numa sociedade desigual. Nessa sociedade desigual, mas não que seja uma sociedade desigual em um tumulto, mas é uma sociedade desigual com ordem.

Aqui os senhores veem ainda, no Ancien Régime, portanto até a Revolução Francesa, como as coisas eram. Por exemplo, um é o valor do duque; outro é o valor do magistrado; outro é o do general; outro é do grande médico; outro é o do diplomata; outro é o de uma senhora que é uma grande dona de salão e que recebe eximiamente; e outra é de uma tontona, mas que é boa mãe de família. São valores diferentes.

O que a gente vê na sociedade do tempo de Saint-Simon é que, por causa da doutrina católica e à luz da doutrina católica, isso estava inteiramente classificado. E sabia-se o que cada uma dessas coisas valia. E sabia-se catalogar as pessoas de acordo com essas várias tabelas, de maneira que, em presença de alguém, havia uma série de fórmulas e de provas de respeito que eram adequadas ao que vale cada um.

Então, os senhores estão vendo o quê? Uma filosofia da vida que gerou uma organização social, gerou um estilo de vida, tudo nascido da filosofia católica da vida, da teologia. Gerou um estilo de vida e gerou, então, uma cortesia, que é a flor desse estilo de vida, é o trato. Quer dizer, é uma alta flor de civilização, a cortesia.

Eu prefiro um povo que não tem nenhum desses progressos modernos e é muito cortês, do que um povo sem cortesia, mas que tem, por exemplo, aviões supersônicos. No avião supersônico qualquer besta entra, basta ter dinheiro; e, dinheiro, qualquer besta tem; basta abrir os olhos. Mas não é disso que se trata. Trata-se é de ter tudo isso dentro de si, todas essas concepções. Trata-se de ter uma alma católica.

Dessa cortesia, vou dar exemplo aos senhores. Saint-Simon fala – para chegar um pouco no Saint-Simon – de uma senhora – era, se não me engano, uma Comtesse d’Evreux que tinha isso: sabia tão bem cumprimentar as pessoas que, quando ela estava, ele dá o exemplo concreto – numa roda onde tem – infelizmente eu não tenho o livro aqui, para consultar; mas – tem, por exemplo, um general, um príncipe, um magistrado, o médico do rei e uma amiga dela, ela seria capaz de fazer uma reverência diante de todos, olhando para cada um sucessivamente e, pelo olhar, dosando o cumprimento segundo o que era cada um. Isso não é um mundanismo: é uma flor de justiça, uma flor de humildade, uma flor de caridade. É a Igreja que suscita essa perfeição.

Eu falei de etiqueta. A etiqueta é uma coisa muito mais vasta do que a cortesia, no sentido de hoje da palavra; mas faz parte do ar de Corte de antigamente.

Vamos imaginar, por exemplo, na corte de Luís XIV, coisas de etiqueta.

O rei – primeiro lugar – normalmente a etiqueta daquele tempo era diferente da de hoje; – os senhores vão ficar chocados com isso – estava-se, habitualmente, de chapéu na cabeça dentro de casa – os homens – e também nos jardins. De maneira que um homem, dentro de casa, tinha a peruca – que é uma coisa que naturalmente choca muito aos senhores – e, por cima da peruca, um chapéu. E o chapéu ainda tinha plumas e muitas vezes, tinha pedras preciosas, além de bordados.

Portanto, vamos dizer, o rei sai no parque. Luís XIV sai no parque, acompanhado com grande número de cortesãos. Ele se encontra com um primo. Encontrando com um primo, como era a pessoa mais próxima possível dele, ele tira ligeiramente o chapéu. E é a única categoria de homens para a qual o rei tira ligeiramente o chapéu. Para os outros ele não tira. Tira, entretanto, para todas as senhoras que ele encontra, até para as criadas do palácio.

Os senhores estão vendo aqui a dosagem. Uma criada do palácio era imensamente menos do que um príncipe, primo do rei. Mas era uma mulher. E as ideias da cortesia antiga levavam a respeitar, na mulher, a fragilidade. Levavam a respeitar, na mulher, a graça; e viam uma excelência particular em que o homem, que representa a força, soubesse tributar esse respeito à fragilidade. Resultado: para qualquer mulher, o Rei Sol tirava o chapéu. Não sei se os senhores percebem o mundo de ideias, de considerações, de pontos de vista que entram nessa simples diferença de protocolo.

Ele encontra um cardeal. Para o cardeal, ele tira o chapéu inteiro, mais do que para o príncipe. Por quê? Porque é um chefe na ordem eclesiástica, e a Igreja é mais do que o Estado. E por isso ele, diante do cardeal, se descobrirá suspendendo o chapéu inteiro.

Ele passa pelas ruas de Paris – quantas vezes isso aconteceu – não tanto ele, que ia pouco a Paris, mas outros reis da França, outros soberanos em todos os lugares – ia a Paris, e passava e via o Santíssimo Sacramento que era levado para um doente. Imediatamente a carruagem real parava. E se não fosse do rei, era de um príncipe, um ministro de Estado, um embaixador, um general, fosse lá o que fosse, parava a carruagem e tinha dentro da carruagem almofadas para essa emergência. Os dois lacaios que estavam atrás, desciam, colocavam a almofada no chão da rua, e o rei se ajoelhava, junto com todos os outros, para ver Nosso Senhor Jesus Cristo passar. Por quê? Porque, diante de Deus, são todos iguais. Não sei se os senhores percebem a fé que entra nisso. Como isso é uma coisa bonita!

Não era tão raro o fato do rei ter tempo e fazer o seguinte: o Santíssimo Sacramento, quando saía à rua naquele tempo, não saía como hoje, no peito de um padre que vai conversando sobre futebol. Ele saía, o sino da paróquia tocava, e o Santíssimo Sacramento ia debaixo de pálio; carregado o pálio pelos fiéis, e pelos fiéis mais importantes do lugar, que iam levar, acompanhar Nosso Senhor pelas ruas até a casa do doente; e entravam na casa do doente, fosse um porão! Porque onde entra Nosso Senhor Jesus Cristo, é uma honra para cada um entrar. Não era tão raro, o rei, tendo tempo, pegar uma das varas do pálio e ir à casa do doente.

Quando o rei entrava com o Santíssimo, não havia honras para o rei. Só estava presente o Santíssimo. É claro! Ali está Nosso Senhor Jesus Cristo, acabou-se! Mas isso é fé.

Saint-Simon descreve a cena de levarem o Santíssimo Sacramento para Luís XIV agonizante. As tropas, em grande gala, formando alas desde a capela do castelo de Versailles até a antecâmara do quarto de dormir do rei. A Corte toda em traje de gala, para honrar o Santíssimo Sacramento. Na escadaria, que conduzia ao andar onde estava o rei, todos os príncipes e princesas da Casa Real ajoelhados para honrar o Santíssimo Sacramento. O cardeal arcebispo de Paris passava, levando o Santíssimo, em grande aparato de Cardeal e seguido de todo o clero, com velas na frente. Era assim que Nosso Senhor era levado ao rei.

Agora, por quê? Porque, se havia tantas honras para o rei, a fortiori, maiores eram as honras para Deus Nosso Senhor; para o Santíssimo Sacramento! Os senhores estão vendo que é um conjunto de fórmulas que envolvem o próprio Deus.

Uma coisa linda da etiqueta daquele tempo: quando o padre rezava o Evangelho na igreja, na hora de rezar o Evangelho, todo mundo se levanta; mas os fidalgos puxavam a espada e, assim, ouviam Evangelho com a espada alta, com o propósito de guerrear pela expansão do Evangelho e pela sua defesa. Os senhores não acham que isso é mais bonito do que ouvir uma missa ié-ié-ié? Faz mal comparar; não sei até se não é de mau gosto fazer comparação.

Agora, o rei está na sua sala, recebendo pessoas. Há uma poltrona supereminente para ele e para a rainha; e eles ocupam o lugar mais em evidência da sala. Depois, tem poltronas comuns para os duques e pares de França. Depois, tem simples cadeiras para nobres de uma categoria menor; e, para senhoras de categoria ainda menor, uma forma de almofada grande, redonda, que elas sentavam.

Por quê? Porque a hierarquia social é como uma escada em que todos participam em grau maior ou menor do poder do rei e da dignidade do rei. E como os duques são chamados os florões da coroa do rei, – os florões da coroa são aqueles ornatos que cercam a coroa – então, eles, junto ao rei, se sentam numa cadeira que, sem ser um trono, tem algo de um trono. Agora, como os outros nobres já não são os florões da coroa do rei, sentam-se numa cadeira e os outros, que são menos, sentam em lugares menos [importantes]. E muitos nobres estão em pé. Uma das virtudes do cortesão era saber ficar em pé. Ficavam horas em pé! A tal ponto que se dizia que o verdadeiro cortesão deve sempre comer quando pode e sentar quando pode; porque é dura a vida para ele!

Isso não chocava ninguém. E, muitas vezes, entrava uma pessoa que tinha direito a uma cadeira mais próxima do rei, os lugares se mudavam, e algumas pessoas ficavam desbancadas, passavam a ficar em pé. E ninguém se chocava. Era natural. Por quê? Porque o mundo é hierárquico e a virtude da humildade, da justiça, da caridade levam a querer prestar essa honra ao outro. Quer dizer, assim é que se faz. Essa é que é a hierarquia, a hierarquização de todas as coisas.

Bem, é para os senhores compreenderem que essa hierarquia não existia apenas do patrão para o empregado, ou de nobre para plebeu; mas existia, igualmente acentuada, em todas as categorias mais altas da sociedade.

Os senhores querem ver como isso é católico e como isso se conservou na Igreja? Basta os senhores considerarem o seguinte: um bispo quando se paramenta, um papa quando se paramenta. Era uma honra ajudar o bispo a paramentar-se. Era uma honra ajudar o Papa a paramentar-se. E eram, altos prelados escolhidos para isso, que ajudavam para isso. Por quê? Porque era a expressão hierárquica do serviço.

Quer dizer, era toda, portanto, uma sociedade na qual essa hierarquização se fazia de um modo muito pronunciado, de um modo muito acentuado, que condicionava todos os costumes.

Significant of the TFP symbols (standard, rampant lion and the cape) – Plinio Corrêa de Oliveira (video)

1-VI-1982 ENT no Êremo do Praesto Sum.

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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Transcrição (português): https://cruciferos.wordpress.com/2021/04/28/significant-of-the-tfp-symbols-standard-rampant-lion-and-the-cape-plinio-correa-de-oliveira-video/

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Significado das Siglas https://cruciferos.wordpress.com/significado-das-siglas-das-fontes/

Santa Bibiana, rogai por nós!


Professor, could you now explain to us the significant of your symbols, that is the standard, the rampant lion and the cape?

Com muito gosto.

O velho presidente Adenauer, da Alemanha, tinha um pensamento em matéria de propaganda que me causou uma profunda impressão. Ele dizia que a principal tarefa de uma corrente de opinião que quer generalizar-se é atrair antes de tudo aqueles que normalmente a ela pertencem, que para ela tem atração.

E por causa disso a TFP mais do que procurar atrair para si socialistas e comunistas, em conversões árduas, sempre excepcionais, um pouco rocambolescas – muito bonitas quando se dão mesmo, mas de rendimento pequeno debaixo do ponto de vista propagandístico – a TFP visa recrutar para a ação anticomunista aqueles que são naturalmente anticomunistas.

Ora, as camadas da sociedade que não se deixam levar para o comunismo são camadas que apresentam uns certos obstáculos de caráter psicológico muito mais do que lógico a uma ação anticomunista. Elas estão habituadas ao conforto, elas estão habituadas a uma vida de nível pequeno burguês ou de nível operário ou de nível grande burguês – pouco importa – elas estão habituadas a uma vida tranquila, encerrada dentro das próprias preocupações da família e sem se preocupar tanto com o bem comum, o bem geral.

Então, dois traços psicológicos devem ser acentuados para convencer este tipo de elementos de que eles devem engajar-se numa ação anticomunista, que eles devem pelo menos apoiar uma ação anti-comunista: 1) é despertar neles a apetência pelos grandes ideais e depois 2) admiração pela coragem. Esses dois aspectos de alma os nossos símbolos procuram despertar.

O nosso estandarte rubro, com a cor dourada do leão, apresenta algo que fala de grandes ideais, algo que produz um estado de espírito que não é bem exatamente aquele que o homem sente quando cogita apenas das vantagens – legítimas, respeitáveis – de sua família, e de sua pessoa e do seu ambiente de trabalho. [O estandarte] Eleva a alma para uma clave superior.

O leão fala da luta e faz sentir a nobreza e a beleza da luta. E comunica um pouco, ou pelo menos do senso de luta, a todos aqueles que o contemplam, numa época em que realmente todos estão atacados pelo perigo comunista e todos são chamados a lutar e a se defender.

Também o mesmo é a capa que usam os cooperadores da TFP. Essa capa visa – por assim dizer – isolar a figura deles da indumentária comum, transformá-los, por assim dizer, em bustos em que eles estão projetados numa linha ideal e uma linha histórica aos olhos do povo.

O cooperador, o sócio da TFP que se apresenta revestido da capa apresenta-se nimbado dos seus ideais, e muito facilmente atinge o objetivo da capa que é de chamar atenção para ele do público que passa. Para vender propaganda, para lançar slogans, para conduzir o estandarte que empolga as multidões, a capa é um complemento indispensável.

Esses são os nossos símbolos, essa é a explicação deles.

What is the TFP? Why the name Tradition, Family and Propriety? – Plinio Corrêa de Oliveira (video)

1-6-1982 ENT no Êremo do Praesto Sum.

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

TRANSCRIPTION (in portuguese):https://cruciferos.wordpress.com/2021/04/28/what-is-the-tfp-why-the-name-tradition-family-and-propriety-plinio-correa-de-oliveira-video/

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Significado das Siglas https://cruciferos.wordpress.com/significado-das-siglas-das-fontes/

Santa Bibiana, rogai por nós!

***

We have the pleasure of listening to Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, the founder and President of the Brazilian Society for the Defense of Tradition, Family and Property, TFP. Prof. de Oliveira is a know catholic thinker, and journalist, former congressman and author of the study that has had worldwide repercussions “What Does Self-Managing Socialism mean for Communism, a Barrier or a Bridgehead? Our first question for Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, is: Professor, how would you define the TFP and its objectives?

A TFP é fundamentalmente uma família de almas e é também uma família de associações autônomas e co-irmãs. Essas associações todas são associações cívicas que tem, portanto, como finalidade atuar no campo temporal. O objetivo especial é de combater a penetração do socialismo e do comunismo na sociedade contemporânea, o que elas fazem pelos processos que mais adiante serão indicados.

Este combate se faz inspirado pela doutrina tradicional da Igreja Católica, de maneira que embora sendo uma associação cívica ela tem uma inspiração doutrinária católica.

Professor, can you explain to us why the name Tradition, Family and Propriety was selected as the name of your organization?

Por uma razão que decorre de muita reflexão e muita observação dos fatos. Houve tempo em que o perigo socialista, o perigo comunista – mais especialmente o perigo comunista – consistia na possibilidade da sublevação de grandes massas de trabalhadores famintos e revoltados contra a classe alta considerada como fruidora de bens que não tocavam a ela.

Nessas condições, o problema da repressão a uma agressão física era um problema fundamental do anticomunismo. Mas, passou a ser verdade que o comunismo foi perdendo, com o tempo – na sua propaganda internacional – ele foi perdendo com o tempo esse caráter agressivo, que o espírito dos povos ocidentais foi rejeitando. E com isso ele se tornou cada vez mais ideológico. Ele passou do comunismo revolucionário, nós passamos para o comunismo polêmico. Isto ainda antes da II Guerra Mundial.

E então os doutrinadores comunistas apresentavam a doutrina comunista claramente, com seus argumentos, e definiam os campos. Alguém é comunista e alguém é anticomunista, mas já não recorriam tanto à violência.

Correspondeu a esse período a organização da reação anticomunista que era de tipo fascista e nazista. Então eram as grandes arregimentações de multidões anticomunistas que procuravam fazer face à dialética comunista por meio de uma dialética anticomunista, de uma oratória especial e de uma teatralogia especial anticomunista também. E quando os comunistas procuravam fazer desordens e fazer algum caos para reprimir a ação fascista ou nazista, eles empregavam a violência.

Mas a violência era um elemento também, nessa primeira fase do fascismo e do nazismo, um elemento ainda colateral diante já da parte mais importante que era a oratória, as grandes concentrações e a capacidade de entusiasmar as multidões dos oradores do tipo Hitler e Mussolini.

Pense-se o que se pensar a respeito deles – eu pessoalmente os combati e não me arrependo disso, acho que andei bem – pense-se o que pensar a respeito deles, continua evidente que o comunismo, nesse período, se apresentava já muito mais como dialético e polêmico e muito menos como violento.

Terminada a II Guerra Mundial, a tática do comunismo mudou porque as disposições da opinião pública mudaram também. Quer dizer, o comunismo passou a ser objeto de um horror internacional por causa da brutalidade e da dureza do regime. E o comunismo sentiu a necessidade de dar uma dianteira na propaganda a todo um sistema novo que era da propaganda ideológica sim, mas uma propaganda velada e não declarada. Uma propaganda ideológica que não se fazia, fazia menos pelo maquinismo do Partido Comunista do que por partidos para-comunistas (o socialismo nos seus vários matizes, as redes dos inocentes-úteis, dos criptos-comunistas etc.), que sem tomar um ar diretamente comunista espalhavam idéias que preparavam para o comunismo.

E não era só o espalhar idéias. Era produzir a transformação da sociedade de maneira que cada vez mais a sociedade burguesa atual se parecesse com a sociedade comunista que elas querem implantar.

Então, declínio da violência – salvo em casos excepcionais aos quais eu me referirei daqui a pouco – declínio da violência, declínio do proselitismo declarado, proselitismo velado, utilização de uma mudança da morfologia, da forma social para se aproximar cada vez mais do comunismo: essas são as diferenças específicas do aspecto novo do comunismo.

O papel da violência aqui qual é? Não é diretamente a violência para impor o comunismo, mas é em certas populações muito sedentárias, muito tradicionais, a violência serve para sacudir a opinião pública e dar-lhe uma idéia de sua própria instabilidade. De maneira que as sociedades não comunistas percam a confiança em si mesmas.

As guerrilhas que durante algum tempo se espalharam pela América do Sul foram isso. A TFP uruguaia tem um livro muito interessante que mostra que os tupamaros – famosos tupamaros violentos – não foram senão um show para criar essa situação de instabilidade na sociedade burguesa.

Ora, nesta caminhada lenta, nesta transformação lenta da sociedade para o comunismo, dois meios foram empregados: atacar gradualmente a tradição, a família e a propriedade – de um lado. De outro lado, estabelecer, fazer do socialismo uma esperança de convergência entre os dois mundos de maneira a eliminar as devidas lutas e preparar uma grande paz internacional e social.

Então a TFP nasceu quando isto começava a ser assim, e julgou dever constituir-se desde logo como uma sociedade de defesa imediata da tradição, da família e da propriedade, porque aí se dá a luta contra o socialismo, é o socialismo que ataca essas instituições para que se chegue ao comunismo.

E então, a trincheira socialista e as artimanhas socialistas, são o alvo que a TFP tem em vista para combater o comunismo.

Esta é a razão pela qual a TFP foi constituída assim: entidades cívicas, de fundamento ideológico-religioso para combater o socialismo, mantendo a tradição, e a família e a propriedade e desta maneira deter o passo do comunismo.

Belas palavras sobre a instituição da Eucaristia, por Plinio Corrêa de Oliveira

8-4-1971 SD.

Dr. Plinio (1908-1995) foi um advogado, catedrático de história na PUC-SP e autor de inúmeros livros, traduzido para diversas línguas. Mais conhecido por ter presidido a TFP, associação de inspiração católica que inspirou outras similares em inúmeros países.

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Significado das Siglas https://cruciferos.wordpress.com/significado-das-siglas-das-fontes/

Santa Bibiana, rogai por nós!


Hoje é o dia da instituição da Santíssima Eucaristia. Os senhores devem tomar em consideração, pen-sando na Santa Ceia, o seguinte fato que me ocorreu uma vez. Se uma pessoa assistisse à Crucifixão de Nosso Senhor Jesus Cristo e visse todas as coisas se passarem como se passaram – uma pessoa que tivesse Fé e que soubesse que Nosso Senhor Jesus Cristo era Deus – feita a Crucifixão, e sabendo que depois haveria a Ressur-reição e a Ascensão, esta pessoa poderia se perguntar o seguinte: posta a Ascensão, nunca mais Ele virá à ter-ra? Então, até o fim do mundo, Ele estará ausente da terra? Isto é uma coisa arquitetônica? É uma coisa razoá-vel? Uma vez que Ele fez pelo mundo tudo quanto ele fez, pela humanidade tudo quanto Ele fez?

Uma vez que Ele imolou a Sua vida desse modo terrível, uma vez que Ele resgatou todo o gênero hu-mano, uma vez que Ele contraiu, quis contrair, condescendeu em contrair com os homens que Ele salvou essa relação tão especial, de Ele ser a cabeça do Corpo Místico, que é a Igreja, e estar continuamente pela graça com todos os homens, até o fim do mundo. De maneira que Ele viria a ser a alma de nossa própria alma, o princí-pio motor de toda a nossa vida, no que ela tem de mais nobre, de mais elevado, que é a vida sobrenatural, a vida espiritual. Uma vez que isto é assim, então nós deveríamos aceitar ser verdadeiro que Ele subisse aos Céus e que a presença real d’Ele na terra nunca mais fosse sentida e nunca mais fosse observada?

Quer dizer, tanta união de um lado, e uma tão completa, tão prolongada, tão irremediável separação do outro lado? Eu não quero dizer que a Redenção e o sacrifício da Cruz impusessem a Deus em rigor de lógi-ca, se assim se pode falar, a instituição da Sagrada Eucaristia. Me parece que a afirmação seria excessiva. Mas pode-se dizer que tudo clamava, tudo bradava, tudo suplicava por que Nosso Senhor não se separasse assim dos homens.
E que uma pessoa com senso arquitetônico deveria entrever que Nosso Senhor arranjaria um meio de estar sempre presente, e presente sempre junto a cada um dos homens por ele remidos. De maneira tal que houvesse a Ascensão, ao mesmo tempo ele estivesse sempre no Céu, no trono de glória que Lhe é devido, mas que ele acompanhasse, passo a passo, a via dolorosa de cada homem aqui na terra. De maneira que Ele esti-vesse com cada homem durante todas as dores da vida e até o momento extremo em que o homem dissesse por sua vez: “Consummatum est”.

Como é que esta maravilha se faria? Uma pessoa não poderia adivinhá-lo. Mas essa pessoa deveria fi-car sumamente suspeitosa de que uma maravilha assim se realizaria. De tal maneira está nas mais altas con-veniências da qualidade de Redentor de Nosso Senhor Jesus Cristo, de nosso Pai, de nosso Protetor, de nosso Médico, de nosso Divino Amigo, está nEle de fazer por nós essa maravilha.

E eu creio que se eu assistisse a Crucifixão e soubesse da Ascensão, ainda que eu não soubesse da Eu-caristia, eu começaria a procurar a Jesus Cristo pela terra, porque eu não conseguiria me convencer de que Ele tivesse deixado de conviver entre os homens.
Esse convívio verdadeiramente maravilhoso se faz exatamente por meio da Eucaristia.

Pudor, modéstia e elegância católica VS movimento hippie nudista neopagão – Dr. Plinio Corrêa

14-7-1971 SEFAC (Semana de Estudos para formação anticomunista) da TFP

Também retirado de: http://www.oprincipedoscruzados.com.br/2015/12/a-escritura-papas-santos-e-teologos.html

***

Nós temos agora, a subversão hippie, a subversão contestatária, etc. Os senhores já tiveram uma conferência sobre o hipismo, creio eu e não vou repetir o que já foi dito. O sabem que é um movimento que não existe sob a forma de um partido ou de uma associação definida, mas é uma espécie de lepra ou de erisipela, que vai cobrindo todo o corpo da sociedade contemporânea, e cujo espírito é anárquico.

(Aparte: Há altas cúpulas no hipismo?)

Eu acredito que o hippismo que sim, mas para os olhos do público isso até agora não apareceu. E se bem que eu, como professor de História, tenha certeza disso, porque conheço o modo de operar destes mo-vimentos, diretamente quanto ao caso hippie ainda não tive nenhuma prova.

O hippismo não consiste apenas no fato de que alguns jovens se entregam à vida hippie, não é isto apenas. Mas é de que incontáveis jovens que não se entregam à vida hippie, vão tomando hábitos hippies e mentalidade hippie.

Nós poderíamos considerar o hippismo em três de suas realizações, em três de suas agressões: a a-gressão moral, sexual, vamos dizer. Se os senhores quiserem, podem falar em terrorismo sexual, porque é um verdadeiro terrorismo sexual. Depois o terrorismo indumentário, que diz respeito aos trajes. E o terrorismo político.

O terrorismo sexual se manifesta pelo seguinte: a generalização da mini-saia, do short, e até em alguns países, de formas ainda mais execráveis de imoralidade. Por exemplo, os senhores sabem que na Suécia existe, em todos os países civilizados, existe evidentemente, casamento para pessoas, para ligar pelo laço conjugal, pessoas de sexo diversos. Na Suécia, existe casamento legal possível de homem com homem ou de mulher com mulher. Uma maior abominação não se pode imaginar. É a última palavra.

Em Nova York, há meses atrás, os homossexuais realizaram um desfile reclamando a impunidade; que a homossexualidade não seja mais crime. As mulheres homossexuais também realizaram um desfile paralelo. Quer dizer, a última palavra da ignomínia, não se pode descer mais baixo. Na Inglaterra, a lei re-primindo a homossexualidade foi revogada. Razão dada e que convenceu a Câmara dos Comuns e a Câmara dos Lordes: é que a homossexualidade se espalhou tanto que não é mais possível puni-la.

Os senhores compreendem o que isto quer dizer como imoralidade.

  • Não se vêem as abominações praticadas no mundo ocidental e cristão nem sequer en-tre as nações pagãs

Esses são fatos, que não se vêem, não se viram, nem sequer na maiorias das nações pagãs de antes de Jesus Cristo. Nem ali houve coisas dessas.

Para tomar um exemplo posterior a Jesus Cristo, mais perto de nós, os senhores tomem os inimigos dos nossos antepassados, portugueses e espanhóis: os mouros. Os senhores comparem a mulher moura, que andava com [tchador], aquele véu, que cobria o rosto até os olhos, e toda envolta em panos, e que era a pagã do tempo das cruzadas, com a católica dos dias de hoje, que se apresenta de short na rua e que vai comungar de mini-saia. Os senhores compreendem como o paganismo se tornou pior aqui do que do lado da lá.

Os senhores tomem uma japonesa em trajes tradicionais, uma chinesa em trajes tradicionais, uma hindu — são nações pagãs — são todas cobertas. O traje comum é púdico. O despudor nos trajes nossos, chegou ao auge.

A doutrina da Igreja ensina a esse respeito que o corpo humano se divide em três zonas: a zona in-diferente, a zona semi-pudenda e a zona pudenda.

A zona indiferente é a que se pode mostrar sem prejuízo nenhum para a moral de ninguém: o rosto por exemplo, as mãos etc.

A zona semi-pudenda é aquela que não é diretamente imoral mostrar, mas que uma moral exímia, preferia que não mostrasse. Quer dizer, não deixa de envolver um certo prejuízo para o pudor. Vamos dizer por exemplo, os braços inteiramente nus — o braço inteiro, não esta parte pequena do braço – são considerados como a exibição de uma parte semi-pudenda do corpo. Não se pode dizer que uma mulher que mostra os braços inteiros nus, que ela está diretamente imoral. Mas a moral tradicional da Igreja vê isto mal, prefere que não seja. Durante muitos séculos, e séculos e séculos, até anos atrás, a Igreja não dava comunhão à mulher que se apresentasse para comungar de braços de fora. Eu acho que alguns dos senhores aqui desta sala ainda conheceram isto. Essa é a parte semi-pudenda do corpo.

Agora, as partes pudendas do corpo, são não só as partes em que se dá a perpetuação da espécie, mas certas zonas que por uma certa conexão, sendo mostradas, despertam violentamente o instinto sexual. Isto são as partes pudendas do corpo. E mostrar a parte pudenda do corpo, é um pecado mortal, em si.

Então, segundo a doutrina da Igreja, mostradas as partes pudendas do corpo, a tentação carnal se torna violentíssima e muitas vezes incontenível. É por isso que não deve mostrar.

Agora, a que é que fica reduzida a moralidade de um povo, que toma o hábito de mostrar as partes pudendas? Porque as partes das pernas que ficam acima dos joelhos, são partes pudendas. Não se pode mostrar sem pecado mortal. Sobretudo o short. Os senhores estão compreendendo que é um incêndio sexual que essas coisas preparam.

  • O “casamento” entre homossexuais é um sintoma que precede imediatamente a morte de nações; exemplo da Grécia antiga

O que dizer da homossexualidade, quer masculina, quer feminina? Que é pecado mortal? É dizer muito pouco. É dos pecados que a doutrina católica qualifica como pecados contra a natureza, que clamam ao céu – diz o catecismo, diz a doutrina católica – e bradam a Deus por vingança. Sodoma e Gomorra foram destruídas porque praticavam a homossexualidade. Esta é a razão diretamente explicada na Bíblia. Esta é a razão. Por quê? Porque é um pecado que atrai a cólera de Deus. As nações onde a homossexualidade se vai generalizando, são nações que caminham para a sua completa decomposição.

A Grécia antiga, por exemplo, tinha casamentos entre homossexuais, mas é uma coisa que marcou o fim da Grécia, que acabou com ela. É um sintoma assim… como para um agonizante quando ele fica com os olhos vidrados, fica lívido, já não se move mais, se diz que é um sintoma que precede imediatamente a morte, assim se deve dizer da homossexualidade. Precede imediatamente a morte dos países.

A homossexualidade é protegida por grande número de moralistas católicos de nossos dias. Nós temos toda uma lista de autores católicos, padres, freiras, leigos católicos que dizem o seguinte: que no caso da homossexualidade, se deve favorecer uma monogamia entre homossexuais, para evitar a poligamia que seria pior. Por quê é pior? Eu não sei também. Os senhores estão vendo que caminha para o casamento. Porque onde a monogamia deve ser favorecida, deve haver um contrato que firme isso, que regularize isso, quer dizer, é o casamento. Autores católicos, hein!

Agora, os senhores estão vendo portanto, que a agressão sexual tem todas as características da última degradação, do último fim. Quer dizer, a característica do amor livre, comunista. O comunismo deseja o amor-livre. Isso conduz ao amor-livre. Destrói a família, destrói o casamento, destrói tudo.

A agressão indumentária: a frase pode parecer excessiva – agressão indumentária – mas eu sustento que os trajes de hoje são agressivos. Não há muitos anos atrás, todos os jovens usavam, como os senhores estão usando, paletó e gravata. Não é um traje admirável, mas é um traje decente. Foi a agressão indumentária de inspiração hippie que acabou com o paletó e a gravata.

(Aparte: Isso, não por comodidade da roupa?)

Como pretexto, a comodidade. Mas o senhor vai vendo até onde essa comodidade chega.

Vamos tomar a sua expressão: o pretexto foi a comodidade. Mas no fundo, está a doutrina de que todo e qualquer traje é incômodo. Então, o primeiro movimento foi por comodidade, abolir o paletó. Depois, por comodidade, substituíram os sapatos por uns mocassins e uns semi-chinelos, pantufas, quando muitos hippies só andam agora de sandálias.

Depois, por comodidade, as calças estão ficando cada vez mais estreitinhas, o que é um absurdo, porque a calça larga é que é cômoda. E encolhendo, vão ficado cada vez mais altas. Por comodidade, em muitos lugares, no Brasil por exemplo ainda não entrou, mas entra a qualquer momento – na Europa eu vi, Itália por exemplo -: os homens usam short, quer dizer, uma calcinha de menino, que deixa os joelhos des-cobertos, e a perna toda livre. Por quê? Porque é mais cômodo. Por comodidade as camisas vão sendo usadas com mangas curtas. Por comodidade, os pijamas já não tem golas, e já não tem manga.

Os senhores estão vendo que a ofensiva final é contra a calça. Quer dizer, no fundo, há uma erosão do traje, que chega até o nudismo. O caminho é o nudismo, onde se chega é o nudismo. É uma verdadeira agressão contra a dignidade humana, mas é assim que as coisas se passam.

(Aparte: No Rio, no verão só se usa camiseta normalmente. Normalmente, todo mundo usa camiseta. Em Co-pacabana, etc.

Normalmente é? O senhor vê.

  • Além da imoralidade que contém, a agressão indumentária também é uma agressão contra o bom senso; é o despudor abrindo caminho para a loucura

A agressão indumentária tem outro aspecto: é uma agressão contra o bom senso. Os trajes que ainda existem, são loucamente extravagantes. As cores, são cores berrantes e que não combinam. As modas seguem um ritmo louco, insensato. Por exemplo, ao mesmo tempo a mini-saia e a maxi-saia. É uma coisa louca, pois se é para usar mini-saia, use; e se é para usar maxi-saia, use. Mas não as duas coisas ao mesmo tempo.

O pior é o seguinte: é que a maxi-saia é de uma inutilidade maluca, do ponto de vista do pudor. Porque a maior parte das vezes, ela é cortada, e de dentro dela aparece de repente uma perna nua. Quer dizer, ela é comprida e não serve para cobrir nada. É um traje demente. Quer dizer, há anos atrás, se uma pessoa desenhasse uma maxi-saia, a gente mandava para um hospício. Porque não tem propósito. É como se os senhores virem um homem que entra numa casa de luvas, mas quando ele levanta a mão, a gente percebe que os dedos da mão da luva caem. Ele diz: “é o último tipo de luvas que eu inventei”. A gente diz: “ah, está bem, até logo!” Este é um louco. Porque se a luva é feita para cobrir a mão, não se pode compreender que, de repente, um dedo caia, esse dedo cai. Esse é um louco.

E introduzir uma moda em que o dedo da luva cai, é uma afronta ao bom senso. Esta afronta ao bom senso, a maxi-saia a faz em muitos casos concretos. É uma saia enorme, na qual a mulher parece que está dentro de uma barrica de pano, e de vez em quando sai uma perna de dentro. E uma perna completamente nua. Quer dizer, o que é isso? É uma forma de agressão ao bom senso.

Essa agressão indumentária nos Estados Unidos chegou à loucura. Um dos nossos amigos esteve em Nova York há alguns meses atrás. E ele assistiu nas grandes ruas de Nova York, à parada da loucura. Tem homens, tem mulheres, mas de idade feita, 40 anos, 45, 50 anos, como mocinhos ou mocinhas. Passa um, por exemplo, com penas como um índio. Depois passa uma outra com um turbante como de um negro, depois passa uma outra, quase nua e vestida de mocinha, e com graças. Isso não chama a atenção de ninguém, é normal. Quer dizer, é a explosão completa do bom senso dentro da indumentária.

Se eu fosse falar aos senhores da explosão e da agressão pedagógica, eu não sei onde nós iríamos, porque os métodos de ensino são tão malucos, ao menos no Brasil, não existe mais disciplina entre aluno e professor. Não existe mais aulas em ordem, não existe respeito, não existe método de ensino. O ensino está se decompondo, se erodindo completamente. Eu acredito que nos países dos senhores um pouco mais cedo, ou um pouco mais tarde, isso seja assim, ou já é assim, já vai em mar alto assim.