Glossário

Glossário de palavras corriqueiras usadas por Plinio Corrêa de Oliveira

Bagarre: termo francês que significa “confusão”, e é o equivalente ao termo “lío”, do espanhol. Foi amplamente usado na TFP para indicar o Castigo vindouro, profetizado pela Virgem Maria em Fátima, e outras profecias. Impregnado no vocabulário interno da TFP, não pôde ser suprimido.

Camáldula, camaldulense: Sede da TFP que tinha um sistema de recolhimento, de silêncio e de estudo mais intenso. O nome existia em homenagem às Camáldulas fundadas por São Romualdo.

Êremos: “Em algumas sedes da TFP introduziu-se – por desejo dos sócios ou cooperadores que ali residem ou trabalham – um regime de silêncio fora das horas de reunião e de lazer, com vistas à obtenção de um clima de recolhimento propício ao trabalho ou ao estudo.

Estes não são mais do que sedes de estudo ou trabalho em que se requer maior concentração de espírito, ou simplesmente se tem em vista um melhor aproveitamento da ação. Pois os Êremos revelaram-se altamente eficazes como fator de aprofundamento intelectual e rendimento nos trabalhos. Por extensão, são chamados eremitas os que residem nos Êremos” (Guerreiros da Virgem, 1986, Cap.3, Nota 2).

Ensabugado, sabugo: quem está, daquele ponto de vista ou naquele momento, como um sabugo de milho, quer dizer, já não serve para nada sem o milho.

Fassur, Fassura, Fassurada: nome dado para quem age imoralmente, em diversas circunstâncias. Fassur era um sacerdote que, após Jeremias ter profetizado a mando do Senhor, “mandou espancá-lo e pô-lo em grilhões na porta superior de Benjamim, que se encontra no Templo do Senhor.” Jeremias XX, 1-2.

Fräulein Mathilde: governanta alemã que Plinio Corrêa de Oliveira teve quando criança, e a qual deixou não só muitos aprendizados e histórias, como lhe ensinou um pouco de alemão.

Grand-Retour: A expressão Grand Retour (Grande Retorno) surgiu em 1942, na França. Neste ano, iniciaram-se peregrinações de quatro cópias da antiga e famosa imagem de Nossa Senhora de Boulogne, que visitaram durante cinco anos dezesseis mil paróquias, aproximadamente a metade do número de paróquias daquele país.

Tais peregrinações ocasionaram um caudal de graças, que determinou impressionante movimento de renovação espiritual no seio do povo. Este, desde o início, chamou espontânea e apropriadamente esse movimento de Grand Retour, isto é Grande Retorno da França à devoção marial.

O Prof. Corrêa de Oliveira e os membros da TFP, utilizando-se da significativa expressão francesa, passaram a chamar a graça do Grand Retour, uma profunda restauração espiritual — à maneira de conversão — que Nossa Senhora concederá àqueles filhos seus fiéis, tendo em vista os dramáticos e grandiosos acontecimentos previstos por Ela em Fátima.

Mafiar, mafiado, máfia: termo usado na TFP para designar o ato de diminuir a honra de outrem, por diversas formas e meios.

N.A.N.E: Nada aprenderam e nada esqueceram. Expressão utilizada por Talleyrand para designar algumas pessoas depois da Revolução Francesa.

Pecado de Revolução: “segundo pecado original no sentido analógico da palavra, não no sentido próprio da palavra. No sentido próprio, só há um pecado original. Porém, assim como se pode dizer que há pecados de famílias e que esses pecados de famílias se originam, às vezes, num fato da vida de família que depois, hereditariamente, marca toda a vida de família, mais por uma hereditariedade de deformação moral do que por uma hereditariedade física – se bem que também a hereditariedade física possa concorrer para uma disposição que propicia o pecado – assim também se pode dizer que, no Ocidente, houve um pecado e que esse pecado foi o pecado de Revolução. Na RCR eu digo que se tratou de um pecado de orgulho e de sensualidade” (11 de novembro de 1968, “Santo do dia”).

Pecado imenso, teoria do pecado imenso: “Como conseqüência dos princípios enunciados [N.E: o problema da Revolução e da decadência da Idade Média, conforme explicados nessas conferências] chegamos à teoria do pecado imenso. Houve, evidentemente, na raiz de todo esse processo, desta apostasia, um imenso pecado. As famílias de almas deveriam, no diálogo interno das várias fibras de um povo que entram em luta, manter a fidelidade à virtude e o amor à Cruz. Alguém não a manteve. Houve um ente sublime, extraordinário, predestinado, que pecou. E com este pecado todo o plano da Providência caiu por terra. Ela quer, muito misteriosamente, condicionar à generosidade de certos indivíduos o livre curso de certos fatos. É um plano de Deus.

Na Idade Média, que viveu de grandes ordens religiosas formando enormes famílias de almas (beneditinos, reforma de Cluny, franciscanos, dominicanos) – e eu não vejo uma ordem religiosa senão como uma família de almas – houve uma ou algumas famílias de almas que apostataram em determinado momento. Como conseqüência, todos os vírus maus começaram a agir no momento perigoso. E a hecatombe da civilização feudal se lhe seguiu” (Conferências publicadas na antiga Circular aos Propagandistas de “Catolicismo”, em 1964. Completo em: https://pliniocorreadeoliveira.info/DIS_640615_RCR_01.htm).

Ploc-ploc, pessoa ploc-ploc: contemplação puramente especulativa sem a contemplação de caráter prático.

Praesto Sum: em latim, “eis-me aqui”. Usada no contexto de quem quer mostrar serviço. A frase é Bíblica, pois vem do profeta Samuel, cuja resposta ao chamado Divino foi pronta e disposta: “O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: Eis-me aqui”, I Samuel III, 16. Também José ao seu pai Jacó em Gn XXXVII, 14:

“Pugnemos pro Domina!” – Quis ut Virgo?”: modo de pedir a palavra, usualmente empregado na TFP. Tradução: “Lutemos pela Senhora [N.E: a Virgem Maria]!”, e quem está com a palavra a concede assim: “Quem como a Virgem?”, espelhando a frase de S. Miguel ao iniciar a batalha para derrubar demônio: “Quem como Deus?”.

“Quis ut Virgo?”: ver “Pugnemos pro Domina!” – Quis ut Virgo?”.

RCR: “Revolução e Contra-Revolução”, livro mundialmente famoso publicado em 1959.

Reino de Maria: São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem prevê a implantação na Terra de uma era “em que almas respirarão Maria como o corpo respira o ar”, e em que inúmeras pessoas “tornar-se-ão cópias vivas de Maria” (Cap. VI, art. V). A essa Era ele chama Reino de Maria. Essa profecia se entronca organicamente com a de Nossa Senhora em Fátima. Com efeito, depois de prever várias calamidades para o mundo, Ela afirmou: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

Sedes, sediatis: respectivamente, “sente-se” e “sentem-se” em latim. Gesto de cortesia, boa educação, e hierarquia na TFP. Quem tinha a palavra (ou autoridade no ambiente), vendo a espera cortês de quem chega para sentar, pede para que se sente.

Glossário editado a partir de “A Cavalaria não morre – Excertos do pensamento de Plinio Corrêa de Oliveira recolhidos por Leo Daniele”

Absoluto, senso do absoluto, procura do absoluto: Em sentido próprio, absoluto é só Deus. Entretanto, existem na criação seres com graus de perfeição muito elevados, e esses seres nos remetem para a idéia de Deus de maneira mais excelente que os demais. A busca de tais perfeições constitui aquilo que o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira chama de procura do absoluto. Como dizia São Boaventura, “o Universo é a escada pela qual ascendemos até o Criador” (São Boaventura, “Itinerário da Mente para Deus”, cap. I, 2); “Comecemos por contemplar todo este mundo sensível como um espelho através do qual podemos chegar até Deus, o artista soberano” (id, Cap. I, 9). Os seres criados são o vestígio, a imagem e a semelhança do Criador. Portanto, em todas as coisas, de alguma forma reluz o absoluto. Ter o senso do absoluto é o saber ver em todas as coisas os aspectos que melhor refletem a Deus. Entre outros autores, explanou São Boaventura tal tese, por exemplo no Brevilóquio (Parte II, cap. XII) e no Itinerário da Mente para Deus (Cap. I, 2). “A criação do mundo é como que um livro, no qual resplandece, representa-se e lê-se a Trindade criadora em três graus de expressão, a saber: como vestígio, como imagem e como semelhança” (Breviloquio, II, XII). V. também Santo Tomás de Aquino, “Summa Theologica”, I q. 45 a. 7.

Arquétipo: Tipo é o “modelo ideal reunindo em si os caracteres essenciais de certa espécie de objetos, em seu mais alto grau de perfeição”. Arquétipo é o “tipo supremo, de que os objetos dos quais temos a experiência não são senão cópias; protótipo, padrão, original, modelo, paradigma” (Paul Foulquié, “Dictionnaire de la Langue Philosophique”, P. U. F., Paris, 1962).

Arquitetonia, arquitetonicidade: no vocabulário pliniano, arquitetonia é uma ordenação possante e harmônica de conceitos. Arquitetonicidade é a qualidade pela qual um conjunto de idéias ou de belezas se insere em um conjunto, como as massas construídas num conjunto arquitetônico de grande classe.

Bonum: do latim. O Bem.

Contra-Revolução, contra-revolucionário: V. mais abaixo Revolução. Para Corrêa de Oliveira, contra-revolucionário em sentido pleno “é quem conhece a Revolução, a ordem e a Contra-Revolução em seu espírito, suas doutrinas, seus métodos respectivos; ama a Contra-Revolução e a ordem cristã, odeia a Revolução e a anti-ordem; faz desse amor e desse ódio o eixo em torno do qual gravitam todos os seus ideais, preferências e atividades” ( “Revolução e Contra-Revolução”, II, IV).

Escola contra-revolucionária: linha de pensamento sociológico católico tradicional, reuniu todos os nomes que falaram do fenômeno “Revolução” há séculos engendrado, o qual visou, desde o início, subverter a ordem cristã alcançada na Idade Média. Antes de Plinio Corrêa de Oliveira, cronologicamente, uma breve lista dos mais famosos pensadores desta linha: Mons. de Ségur, Joseph de Maistre, Beato Pio IX, Donoso Cortés, Mons. Gaume, Leão XIII, Louis Veillout, São Pio X, Mons. Delassus, G. Lenotre, Pe. León Dehon.

Idealizar: nesta frase, e em geral no vocabulário do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, significa despir determinada coisa de suas imperfeições, para imaginá-la perfeita, conforme às nossas mais altas aspirações. Essas figuras ideais pairam impalpavelmente sobre a Humanidade, constituindo uma esfera que não existe senão no pensamento: uma transesfera.

Inocência: o conceito pliniano de inocência vai muitíssimo além da acepção corrente da palavra. Não se trata apenas de não praticar o mal, mas sobretudo de aderir fortemente à harmonia do Verdadeiro, do Bom e do Belo. Inocente é quem não pecou contra aquele estado de espírito primevo de equilíbrio e temperança, e por isso conserva-se aberto a todas as formas de maravilhoso e apetente delas.

Metafísica: como substantivo, é a parte da Filosofia que estuda o ser enquanto ser. O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira muitas vezes utilizava o adjetivo metafísico(a) em seu sentido etimológico, isto , aquilo que vai além do físico.

Paradisologia: Estudo de como teria sido o Paraíso Terrestre, de que foram expulsos Adão e Eva, e mais acima, como é o mundo angélico e o Paraíso celeste. É nessas culminâncias que se encontra a matriz para uma ordem humana ideal, para a qual a humanidade deve tender dentro das limitações impostas pelo pecado original. Um dos pólos de atração do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, durante toda sua vida, foi a procura da ordem ideal. Muitos dos pensamentos sobre o maravilhoso, a sociedade ideal, a ordem ideal, transcritos nos livros desta coleção, foram extraídos do acervo doutrinário monumental constituído por mais de quarenta anos de reuniões realizadas com esse fim. As anotações delas constituem manancial de riqueza incalculável para o estudo da ordem do Universo considerada em todos os seus aspectos.

Pulchrum: Devido a certa banalização da palavra belo em português, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira muitas vezes lhe preferia o temo latino pulchrum, que significa a mesma coisa mas carrega outras conotações. Sobre o pulchrum em Santo Tomás, vide Summa Theologica, I, q. 5, a.4; I, q. 39, a. 8; I-IIae, q. 27, a. 1 ad 3 . “O Belo na ordem criada é o esplendor de todos os transcendentais reunidos: do ser, do uno, do verdadeiro e do bom; ou, mais particularmente, é o fulgor de uma harmoniosa unidade de proporção na integridade das partes (splendor, proportio, integritas – cfr. Santo Tomás de Aquino, Summa Theologica, I, q. 39, a. 8)”. Garrigou-Lagrange O.P., Divine Perfezioni, Roma, 1923, p. 337.

Reino de Maria: São Luís Maria Grignion de Montfort (1673-1716) em seu Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem prevê a implantação na Terra de uma era “em que almas respirarão Maria como o corpo respira o ar”, e em que inúmeras pessoas “tornar-se-ão cópias vivas de Maria” (Cap. VI, art. V). A essa era ele chama Reino de Maria. Essa profecia se entronca organicamente com a de Nossa Senhora em Fátima. Com efeito, depois de prever várias calamidades para o mundo, Ela afirmou: “Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará”.

Revolução: processo que vem devastando a Civilização Cristã desde o século XV/XIV, e quer derrubar toda a ordem de coisas. Identificado primeiramente pela escola contra-revolucionária (ver acima), foi sintetizado e descrito em maiores detalhes no ensaio “Revolução e Contra-Revolução”, do mesmo autor. Quatro edições em português, com tradução e várias edições nas principais línguas vivas.

Revolucionário: adepto da Revolução, de forma consciente ou subconsciente.

Sacral, sacralidade: na maneira de se exprimir de Corrêa de Oliveira, há uma diferença de matiz entre as palavras sagrado e sacral: sacral é o sagrado posto na ordem temporal ou profana. A sacralidade tem uma profunda relação com as desigualdades do Universo e se apóia sobre os seguintes princípios: a) O Universo — mais ainda, toda a ordem do ser — é hierárquico. b) Ele é insondavelmente desigual de um grau para outro, e infinitamente desigual em relação a Deus. c) O mais alto, a um ou outro título, é sempre causa, modelo, mestre e regente do mais baixo. d) A título próprio, só Deus é causa, modelo, mestre e regente das criaturas. Portanto, todas as hierarquias se reportam a Deus, que é infinitamente nobre, sublime e elevado. e) A escala dos seres é uma escala fechada, no sentido de que o mais alto, que é Deus, toca no último, no ínfimo. Deus e as ordens superiores estão, a um ou outro título, presentes nas ordens inferiores. Portanto não se trata de uma ordem estraçalhada e descontínua, mas harmônica, que se fecha.

Verum: do latim. O verdadeiro.

Transesfera: v. idealizar, mais acima.