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SOBRE AS IMAGENS - SUBIDA DO MONTE CARMELO, POR SÃO JOÃO DA CRUZ, LINK ABAIXO DIVIDO EM CAPÍTULOS PAR BAIXAR) AUDIOLIVRO DIVIDIDO EM CAPÍTULOS PARA BAIXAREM CAPÍTULO, 35 - Dos bens espirituais agradáveis …Mais
SOBRE AS IMAGENS - SUBIDA DO MONTE CARMELO, POR SÃO JOÃO DA CRUZ, LINK ABAIXO DIVIDO EM CAPÍTULOS PAR BAIXAR)

AUDIOLIVRO DIVIDIDO EM CAPÍTULOS PARA BAIXAREM

CAPÍTULO, 35 - Dos bens espirituais agradáveis que podem ser objeto claro e distinto da vontade. De quantas espécies são.

- Podemos reduzir a quatro gêneros todos os bens nos quais a vontade pode distintamente comprazer-se: os que nos movem à devoção, os que nos incitam a servir a Deus, os que nos dirigem a ele e os que nos levam à perfeição. Trataremos de cada um segundo esta ordem, começando pelos primeiros, a saber: as imagens e retratos dos santos, os oratórios e cerimônias religiosas.
- Pode haver, quanto a essas imagens e quadros, muita vaidade e gozo inútil. Sendo tão importantes para o culto divino e tão necessários para mover a vontade à devoção como o demonstra o uso e aprovação da Santa Igreja, - e, portanto, convém nos aproveitarmos desse meio para despertar nossa tibieza, todavia, muitas pessoas põem muito mais o gozo na pintura e ornato exterior do que no seu significado.
- A Santa Igreja ordenou o uso das imagens para dois fins principais: reverenciar nelas os santos, e mover a vontade despertando a devoção dos fiéis, por meio delas, para com os mesmos santos. Quando esses dois efeitos se produzem, as imagens são muito proveitosas, e o seu uso necessário. E, assim, devem ser preferidas aquelas que retratam os santos mais ao vivo e ao natural, movendo a maior devoção; só este motivo justifica a preferência, e não o preço e curiosidade do feitio ou ornato exterior. Há quem repare mais na arte e valor da imagem, do que no santo nela representado.
Em vez de dirigirem a sua devoção espiritual e interior ao mesmo santo invisível, põem-na no ornato e confecção material daquela imagem que deveriam esquecer, pois é apenas motivo para a alma se afervorar; e aplicam ao objeto exterior o amor e gozo da vontade com deleite e satisfação do sentido. Com este modo de agir, impedem totalmente o verdadeiro espírito que requer o aniquilamento do afeto em todas as coisas particulares.
- Ver-se-á bem o que afirmamos, no uso detestável adotado em nossos tempos por certas pessoas que, não tendo ainda aborrecido o traje vão do mundo, adornam as imagens segundo os costumes modernos inventados cada dia pelos mundanos para seus passatempos e vaidades, e com este traje frívolo e repreensível vestem as ditas imagens. Isto aos santos sempre foi e é sumamente odioso. Parece que tais pessoas, por sugestão diabólica, querem canonizar as suas próprias vaidades, ornando com estas as sagradas imagens, não sem grave injúria aos mesmos santos.
Desse modo, a honesta e séria devoção da alma, que lança e arroja de si até a sombra de qualquer vaidade, é substituída por uma espécie de ornato de bonecas; e alguns chegam a servir-se das imagens como se fossem ídolos em que põem toda a sua complacência.
Vereis ainda outras pessoas que não se fartam de acrescentar imagens a imagens, e querem que sejam de tal ou qual feitio e espécie, colocadas de determinada maneira, para deleitarem ao sentido, enquanto a devoção do coração é bem diminuta. Tem tanto apego a essas imagens, como Micas ou Labão aos seus ídolos: o primeiro saiu de casa bradando em altas vozes porque lhos roubavam, e o segundo, após ter percorrido longo caminho para os recuperar, muito encolerizado, revolveu toda a tenda de Jacó para encontrá-los. (Juízes 18,24; Gênesis 31,34.)
- A pessoa verdadeiramente devota faz do invisível o objeto principal de sua devoção; não necessita de muitas imagens, antes usa de poucas, escolhendo as mais ajustadas ao divino que ao humano; procura conformar as imagens e a si mesma ao estado e condição da outra vida, e não segundo o traje e modo deste século. Tem em vista, não somente livrar o apetite de ser movido pela figura deste mundo, mas ainda não dar ocasião a que essas imagens lhe tragam a lembrança dele como aconteceria se oferecessem aos olhos alguma coisa semelhante as do século.
Longe de apegar o coração às que usa, bem pouco se aflige se lhas tiram, porque busca dentro de si mesma a viva imagem de Cristo crucificado, e nele se goza por tudo lhe ser tirado e tudo lhe faltar. Ate quando lhe subtraem os motivos e meios mais próprios para a sua união com Deus, fica sossegada.
Efetivamente, é maior perfeição conservar-se a alma com tranquilidade e satisfação interior na privação de todos esses meios, do que possuí-los com apego e apetite.
Embora seja bom recorrer às imagens que ajudam a devoção, escolhendo por este motivo as que mais movem a alma, todavia, não é perfeito apegar-se a elas com propriedade, a ponto de entristecer-se quando lhas tiram.
- Tenha por certo a alma o seguinte: quanto mais estiver presa a qualquer imagem ou motivo sensível, menos subirá a sua oração e devoção até Deus. Sem dúvida, podem ser preferidas algumas imagens a outras, por retratarem mais expressamente os santos, excitando assim maior devoção; mas, unicamente por esta causa, e permitido afeiçoar-se a elas, sem aquele apego e propriedade a que nos referimos.
De outro modo; todo o proveito e fruto que havia de tirar o espírito em elevar-se a Deus por esses motivos de devoção, absorvê-lo-ia o sentido, estando engolfado no gozo desses mesmos instrumentos; e aquilo que me deveria ajudar a alma, por minha imperfeição me serve de obstáculo, tanto como o apego e afeição desordenada a qualquer outra coisa.
- Sobre este ponto das imagens, talvez alguma objeção me seja feita, por quem não haja compreendido bastante a desnudez e pobreza de espírito requerida para a perfeição. Mas nada se pode opor, certamente, ao reconhecer a imperfeição muito comum insinuada na escolha dos rosários. É raro encontrar pessoa que não tenha alguma fraqueza a esse respeito, desejando que sejam de tal forma e não de outra, de cor determinada, preferindo um metal a outro, com tal ou tal ornamento etc.
No entanto, Deus não ouve mais favoravelmente as orações feitas com este ou aquele, pois a matéria do objeto não tem importância alguma. As orações ouvidas por Deus são de preferência as que saem de um coração simples e verdadeiro, cuja única pretensão é agradar ao Senhor, sem cuidar deste ou daquele rosário, a não ser por causa das indulgências.
- Tal o modo e condição de nossa vã cobiça, que em tudo quer fazer presa; como bicho roedor, come as partes sãs, e nas coisas boas e más faz o seu ofício. Com efeito, que significa a tua predileção por um rosário curiosamente trabalhado? E por que preferes seja desta matéria e não de outra, senão para assim satisfazer o teu gosto? Por que escolhes esta imagem de preferência àquela, pelo motivo do seu preço e da sua arte, sem reparar se te inflamará mais no amor divino? Certamente, se empregasses teu apetite e gozo somente em amar a Deus, serias indiferente a isto ou àquilo.
Causa grande aborrecimento ver algumas pessoas espirituais tão apegadas ao modo e feitio desses objetos e à curiosidade e vã complacência no uso deles, jamais se satisfazendo; andam sempre a trocar uns por outros, mudando e olvidando a devoção do espírito por esses meios visíveis.
Muitas vezes a eles se apegam com afeto desordenado, bem semelhante ao que tem a outros objetos temporais; e deste modo de proceder resulta-lhes não pouco dano.

CAPÍTULO, 36 - Continua a falar das imagens. Ignorância de certas pessoas a este respeito.
- Muito haveria que escrever sobre a pouca inteligência de muitas pessoas a propósito das imagens. Às vezes, chega a tanto a sua inépcia, que confiam mais numa imagem do que em outra, na persuasão de serem mais ouvidas por Deus por aquela do que por esta, embora ambas representem a mesma realidade, como, por exemplo, duas de Jesus Cristo ou duas de Nossa Senhora.
Isto acontece porque põem a sua afeição na figura exterior, preferindo uma à outra, mostrando assim grande ignorância no modo de tratar com Deus e de prestar-lhe a devida honra e culto, o qual só olha a fé e pureza do coração daquele que ora. Se Deus concede mais graças por meio de determinada imagem do que por outra do mesmo gênero, não é porque haja na primeira algo especial para esse efeito; (embora haja diferença no exterior.) mas somente porque as pessoas se sentem movidas a mais devoção por meio daquela.
Se tivessem a mesma devoção para com ambas as imagens, (e ainda sem esses meios.) receberiam os mesmos favores divinos.
- A diferença das formas ou a beleza material da imagem não são motivo para Deus fazer milagres e mercês; serve-se o Senhor daquelas diferenças, não para as imagens serem estimadas com preferência de umas e outras, mas unicamente para despertar nas almas a devoção adormecida, e o afeto dos fieis à oração. Ora, como por meio daquela imagem este resultado é produzido, isto é, se acende a devoção nas almas, movendo-as a mais oração, (porque uma e outra são meios para Deus atender o que lhe é pedido.) Então costuma o Senhor conceder suas graças por aquela determinada imagem, operando milagres.
Não procede Deus assim por causa da imagem, em si mesma apenas uma pintura, mas por causa da devoção e fé que as almas tem para com o santo representado. Se tivesses, pois, a mesma devoção e fé em Nossa senhora, diante de uma como de outra imagem, (pois ambas representam a mesma Senhora.) receberias as mesmas graças, e ainda sem imagem alguma.
Vemos por experiência como Deus faz os seus prodígios e graças por intermédio de certas imagens cuja escultura ou pintura deixa muito a desejar, não oferecendo interesse algum à curiosidade; assim o faz para impedir os fiéis de atribuírem qualquer coisa nesses prodígios à escultura ou à pintura da imagem.
- Muitas vezes Nosso Senhor escolhe as imagens colocadas nos lugares solitários e apartados para conceder suas mercês. De um lado, porque a devoção dos fieis aumenta com o sacrifício de se transportarem ate onde elas estão, e torna mais meritório o seu ato; de outro, porque se afastam do barulho e do tumulto da multidão para orar, como fazia o divino Mestre. Por isto, quem faz alguma peregrinação, é bom fazê-la quando não vão outros peregrinos, embora seja em tempo extraordinário.
Quando há grande concurso…