Fiducia supplicans: a falsa confiança, e o abuso da misericórdia divina. Prof. Sousa Moura A recente declaração Fiducia supplicans - a “confiança suplicante” - da Congregação para a Doutrina da Fé,…Mais
Fiducia supplicans: a falsa confiança, e o abuso da misericórdia divina.

Prof. Sousa Moura

A recente declaração Fiducia supplicans - a “confiança suplicante” - da Congregação para a Doutrina da Fé, o antigo Santo Ofício, trouxe à tona um escândalo seríssimo: o de que seria possível abençoar relações abomináveis e pecaminosos, a pretexto de uma “piedade espontânea popular”, ou de uma “confiança” na autoridade da Igreja, daqueles que estão em pecado.

Ora, essa visão da confiança enquanto sentimento hipócrita e irracional em nada coaduna com a visão da Igreja sobre a confiança. Se vermos o que diz o Doutor comum da Teologia, Santo Tomás, na Summa Theologica, IIaIIae, questão 129, artigo 6º, no Tratado sobre a Fortaleza, é dito que a confiança é parte integrante da magnanimidade, a virtude que modera a busca das honras lícitas advindas do exercício da virtude.

Já daí se vê a total oposição com essa confiança presunçosa dos modernistas, fruto de um piedade popular sentimental. Justamente por ser parte da magnanimidade, a confiança, fiducia, em latim, que deriva etimologicamente de fides , ou seja, da fé (daí vemos que a confiança sem a fé não é nada…), tem na sua constituição essa espera nutrida num determinado fato, seja advinda de nós mesmos (quando estamos preparados para algo e confiamos nos nossos méritos), ou advinda de um outro, geralmente um amigo e mais forte que nós, que nos ajudará.

Vemos então que, conforme o Aquinate, a confiança está intimamente associada com o "fiduciar", ou o ter fé fundada e consequente esperança [1] num bem futuro árduo, ou seja, confiar em coisas fáceis ou de maneira irracional e sentimental não é confiança, não é virtude, mas presunção ou ingenuidade.

Lembremos que Nosso Senhor mesmo disse, que muitos são os chamados, mas poucos os escolhidos, de como a porta do Céu é estreita, enfim, confiar nas bençãos do Altíssimo, sem fazer o caminho mínimo de ascese, de penitência, de tentar fugir do pecado, sem ter ao menos a noção do que é pecado – é o caso de muitos desses homossexuais e adúlteros, eles não consideram que seu pecado é pecado, porque não tem fé – é gravíssimo, é abusar da misericórdia de Deus, que é pecado contra o Espírito Santo.

Devemos sobretudo confiar na Cruz de Nosso Senhor, que é um bem árduo e magnânimo, e de extremo mérito. Se seguirmos os seus santos passos, seremos salvos.

[1] Aqui, por mais que fé e confiança possam ser usadas como sinônimos, existe uma distinção, principalmente quando consideramo-las enquanto virtudes teologais: aquela é a crença ou adesão da inteligência ao depositum fidei, das coisas que não se vê ; esta (a esperança) , derivada daquela (a fé) , é a confiança na Providência do Altíssimo, e desejo de consumação das promessas da fé. Ou seja, ter esperança é esperar o céu que a fé promete.