André Fillipe
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Fenômenos místicos - Inédia (Jejum absoluto) - explicação da Igreja Católica

1. O fato. Na história dos santos, os fenômenos de inédia ou jejum absoluto foram registrados muitas vezes por muito mais tempo do que resistem as forças.

2. Casos históricos. Eis aqui alguns dos mais notáveis: Santa Ângela de Foligno (1309) ficou doze anos sem tomar nenhum alimento; Santa Catarina de Sena (1347-80), aproximadamente oito anos; Beata Elisabete de Reute (1421), mais de quinze anos; Santa Liduína de Schiedam (1380-1433), 28 anos; São Nicolau de Flüe (1417-87), vinte anos; Beata Catarina de Racconigi (1468-1547), dez anos. Do período mais recente, podemos citar Rosa Maria Andriani (1786-1845), 28 anos; Dominica Lazzari (1815-1848) 14 anos. É famoso o caso da Serva de Deus Teresa Neumann (1898 -1962), 36 anos se alimentando apenas de Eucaristia, rigorosamente verificado por uma observação de que as críticas mais severas foram forçadas a admitir como indiscutíveis.

3. Explicação do fenômeno. A fisiologia e patologia humanas demonstram plenamente que o homem não pode naturalmente sobreviver a uma abstinência total e prolongada de alimentos por mais de algumas semanas. Aqui estão alguns fatos curiosos sobre este particular:
a) Em 1831, o bandido Granié, condenado à morte, recusou toda a comida, exceto um pouco de água; após sessenta e três dias em convulsões. Ele não pesava mais de 26 quilos.
b) Em 1924, o Dr. P. Nouty publicou no Concours medical a observação de uma nonagenária que, tendo fraturado o colo do úmero, declarou que não queria ficar incapacitada e preferia morrer. Recusou toda a comida, exceto um pouco de líquido e alguns grãos de uvas. Faleceu em quarenta e nove dias.
c) Atualmente, é também o caso do lorde prefeito de Cork — Mac Swiney — que ficou famoso em todo o mundo morrendo de fome em protesto contra o domínio inglês sobre a Irlanda. Sua agonia, durante a qual ele bebeu apenas líquidos, durou aproximadamente dois meses e meio (setenta e três dias).
É claro a partir desses e de outros dados semelhantes que a vida humana não pode prolongar-se em inédia absoluta além de dez ou doze semanas, não havendo sido registrado até o momento nenhum jejum natural prolongado por mais de três meses.

Como, então, esses jejuns dos santos são prolongados por meses e anos, explicados, não apenas sem morrer, mas mesmo sem perder peso e sem que sua saúde seja prejudicada por isso?

Antes de tudo, parece necessário rejeitar qualquer tentativa de explicação puramente natural. O organismo humano não pode naturalmente manter sua vitalidade sem 'combustão' interna. Toda combustão leva a uma perda considerável de ácido carbônico e resíduos; daí o desgaste e a morte após um certo tempo, se não houver suprimento de material de reposição. Notemos, por outro lado, que os santos e pessoas piedosas que praticaram tais jejuns não apenas não levavam uma vida letárgica e sonolenta, mas, ao contrário, cheia de vitalidade e dinamismo, com poucas horas de descanso ou sono. Seus gastos de energia vital tinham, portanto, de atingir o máximo. Isso é coisa de todo clara e evidente.

Teremos que concluir, sem mais, que um jejum prolongado por um tempo maior do que aquele que a natureza pode ordinariamente suportar é necessariamente sobrenatural? Achamos que não.

A Igreja não leva em consideração o jejum prolongado — mesmo que tenha sido totalmente comprovado - para decidir sobre uma beatificação ou canonização. É necessário levar em conta as possíveis intervenções diabólicas.

Somente a comparação e o contraste com o resto da vida do paciente pode nos dar a chave para julgar a sobrenaturalidade de um jejum prolongado. É necessário verificar a duração do jejum, a conservação das forças físicas e morais, a ausência de fome em plena saúde e a exclusão de qualquer causa mórbida de jejum. E, acima de tudo, é necessário ter certeza da santidade do abstinente, da heroicidade de suas virtudes, de seus dons sobrenaturais de êxtase etc., que quase sempre acompanham esses fenômenos portentosos quando são sobrenaturais, como parece ser o caso de Teresa Neumann. Deve-se examinar diligentemente se há um motivo oculto de vaidade ou presunção no jejum ou se, pelo contrário, é praticado sob a moção do Espírito Santo e com submissão plena e dócil à obediência. O abstinente deve, ademais, ser sustentado durante seu longo jejum somente pela recepção da Santa Eucaristia e deve cumprir todos os deveres do próprio estado. Somente quando se reúnam todas essas circunstâncias, o fenômeno pode ser julgado como verdadeiramente sobrenatural e milagroso.

Suposta, finalmente, a sobrenaturalidade do fenômeno, deverá ser explicado, do ponto de vista teológico, por uma espécie de incorruptibilidade antecipada dos corpos gloriosos, que suspende a lei do desgaste incessante dos órgãos e dispensa, por isso mesmo, da lei referente à refeição de alimentos.

Antonio Royo Marin