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ESPIGUEIROS DO SOAJO, PERTO DE ARCOS DE VALDEVEZ, EM PORTUGAL. Na vila de Soajo, no concelho dos Arcos de Valdevez, há um conjunto de espigueiros que são a maior atração local. Inserida numa das zonas …Mais
ESPIGUEIROS DO SOAJO, PERTO DE ARCOS DE VALDEVEZ, EM PORTUGAL.

Na vila de Soajo, no concelho dos Arcos de Valdevez, há um conjunto de espigueiros que são a maior atração local.

Inserida numa das zonas de maior beleza natural do actual território português, a Vila de Soajo destaca-se das demais pela organização social e económica que caracterizou sempre as suas gentes, estruturada em torno do princípio comunitário, tão particular das comunidades rurais, das quais fazia, em todo o caso, o pastoreio e a própria transumância, a ele inerente.

Prolongava-se, deste modo, uma forma de estar que se perde no tempo, assim como a própria caça, com a qual se celebrizaram os seus habitantes, conhecidos, também por isso, como "monteiros".

Uma particularidade que se materializou noutros aspetos do quotidiano populacional, a exemplo do pelourinho erguido na praça principal, cujos elementos compósitos são interpretados por alguns autores como símbolos de uma forte tradição local de autonomia administrativa e política fortemente ancorada no seu mais remoto passado.

É, no entanto, já fora da Vila, propriamente dita, que a vertente comunitária assume maior visibilidade.

Falamos, é claro, dos espigueiros, expressão máxima da vida coletiva da região.

Localizados no topo de um volumoso afloramento granítico, os vinte e quatro espigueiros de Soajo de tipo galaico-minhoto rodeiam a eira comum.

Erguidos na matéria-prima, por excelência, da região - o granito -, os espigueiros tipificam-se de igual modo pelo corpo baixo e alongado que apresentam, variando, porém, na forma dos esteios da cobertura, das mesas e das padieiras, substituindo, muito provavelmente, os primitivos canastros, hoje desaparecidos, e que seriam construídos em verga, como o próprio nome indicará.

Um dos elementos mais interessantes residirá, contudo, no facto destas estruturas ostentarem vestígios de sugestiva sacralização, como no caso das cruzes presentes no topo, sobre peanhas, provavelmente destinadas a invocar proteção divina sobre os produtos neles contidos e que tão vitais se revelam ao normal desenvolvimento da vida das populações.

Datáveis dos séculos XVIII e XIX, numa altura em que Soajo chegou a ser concelho, os espigueiros conheceram maior atividade ao tempo do investimento na cultura do milho, assim resguardado, quer das intempéries, quer dos animais, afastados também pela presença dos telhados de duas águas e dos pilares de sustentação. E foi ainda a pensar na preservação do cereal que as paredes dos espigueiros foram fendidas verticalmente, de modo a permitir a circulação de ar por entre as espigas empilhadas, sendo a sua maioria ainda utilizada nos nossos dias para armazenamento e secagem do milho.