André Fillipe
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OS ERROS DE PE. QUEVEDO

A respeito da origem da alma humana, Quevedo ensinava que, assim como da roseira vem uma roseirinha, do coelho nasce um coelhinho com a mesma natureza de seus genitores, o pai e a mãe geram, no ato sexual, um ser humano completo com corpo e alma. Que dizer? – Devemos dizer que há falhas graves aí. As plantas e os animais irracionais são seres puramente materiais e têm, portanto, a mesma natureza material dos genitores. Só o ser humano tem corpo material e alma espiritual.

Ao tratar do ser humano, a tese de Quevedo é a do monismo (uma só coisa: corpo e alma formam um todo único), funda-se, ao que parece, em um pensamento antigo chamado de traducionismo (do latim, tradux,cis: transmitir), defensor de que os pais transmitem aos filhos, por meio do espermatozoide e do óvulo, não só o corpo, mas também a alma espiritual. Ora – por pura lógica – da matéria não pode provir o espírito. Matéria só gera matéria. A Igreja defende a dualidade, ou seja, o ser humano é formado de corpo material e alma espiritual (corpo + alma = pessoa). Duas realidades distintas que se unem, em harmonia, sem se confundirem. Daí, dizer o Catecismo da Igreja Católica, n. 336, que “cada alma espiritual é diretamente criada por Deus – não é produzida pelos pais – e é imortal” (cf. Pio XII. Encíclica Humani generis, 1950; Denzinger-Schönmetzer (DS) 3896; Credo do Povo de Deus, 8, e V Concílio de Latrão, 1513; DS 1440).

Outro ponto é consequência muito direta do primeiro, pois trata da morte. Dizia Quevedo: “À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando. A mesma alma, com o mesmo corpo, embora em outra situação: um corpo ‘espiritual’. Nem por um instante a alma é separada do corpo”. Em outras palavras, nega-se a clássica definição de morte, a sobrevivência da alma sem o corpo e a ressurreição da carne só no fim dos tempos.

Respondemos, com a Igreja, o que segue: “Na morte, separação da alma e do corpo, o corpo do homem cai na corrupção, enquanto a sua alma vai ao encontro de Deus, embora ficando à espera de se reunir ao seu corpo glorificado. Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus” (Catecismo da Igreja Católica n. 997). Logo se vê que cada afirmação do Catecismo contraria Quevedo.

Com efeito, diz o parapsicólogo que “nem por um instante a alma é separada do corpo”, ao passo que o Catecismo define a morte como a “separação da alma e do corpo”. A ressurreição da carne é verdade de fé (“Deus, na sua onipotência, restituirá definitivamente a vida incorruptível aos nossos corpos, unindo-os às nossas almas pela virtude da ressurreição de Jesus”), mas não ocorre, imediatamente, após à morte, como pensava Quevedo (“À medida que vamos morrendo, vamos ressuscitando”), pois, na morte real, o corpo material se decompõe e a alma espiritual, indestrutível como é, volta para Deus, seu criador. O Catecismo ensina que, após a morte, “a alma vai ao encontro de Deus” e entra no céu, no inferno ou se purifica no purgatório a fim de receber o céu. Portanto, é capaz de viver sem corpo, como já afirmou várias vezes a Igreja (cf. Carta da Congregação para a Doutrina da Fé aos Bispos sobre questões referentes à Escatologia, 17/05/1979, n. 3 e 6, em especial).

O Catecismo diz, ainda, que, embora só, a alma fica “à espera de se reunir ao seu corpo glorificado”. E quando se dará essa ressurreição? – “Definitivamente, ‘no último dia’ (Jo 6,39-40.44.54;11,24), no fim do mundo”, pois a ressurreição da carne – termo clássico do Credo – está associada à vinda gloriosa de Cristo (cf. Catecismo da Igreja Católica n. 1001; Lumen Gentium, 48; 1Ts 4,16).

Por esta breve exposição, vê-se que não podemos ignorar os documentos da Igreja para abraçar as teses do Pe. Quevedo.

Não podemos deixar de falar dos anjos e dos demônios aos quais Quevedo negava , que é claríssima verdade de fé (cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 328). Ao negar, no entanto, a ação dos anjos bons, aqui, Quevedo se opõe a tudo o que o Catecismo propõe, a partir da Escritura e da Tradição, sobre esses seres espirituais, nos parágrafos n. 325-336. No 336, ensina sobre os anjos bons que “desde o seu começo até à morte, a vida humana é acompanhada pela sua assistência e intercessão. ‘Cada fiel tem a seu lado um anjo como protetor e pastor para o guiar na vida’ (S. Basílio. Ad Eunomium 3,1: PG 29,656B). Desde este mundo, a vida cristã participa, pela fé, na sociedade bem-aventurada dos anjos e dos homens, unidos em Deus”. Portanto, os anjos bons agem neste mundo”.

Sobre a ação do diabo o Catecismo também é claro. Ensina em seu n. 394 que “a Escritura atesta a influência nefasta daquele que Jesus chama ‘o assassino desde o princípio’ (Jo8,44), e que chegou ao ponto de tentar desviar Jesus da missão recebida do Pai. ‘Foi para destruir as obras do Diabo que apareceu o Filho de Deus’ (1Jo 3,8). Dessas obras, a mais grave em consequências foi a mentirosa sedução que induziu o homem a desobedecer a Deus”. Mais: “No entanto, o poder de Satanás não é infinito. Satanás é uma simples criatura, poderosa pelo fato de ser puro espírito, mas, de qualquer modo, criatura: impotente para impedir a edificação do Reino de Deus. Embora Satanás exerça no mundo a sua ação, por ódio contra Deus e o seu reinado em Jesus Cristo, e embora a sua ação cause graves prejuízos – de natureza espiritual e indiretamente, também, de natureza física – a cada homem e à sociedade, essa ação é permitida pela divina Providência, que com força e suavidade dirige a história do homem e do mundo. A permissão divina da atividade diabólica é um grande mistério. Mas ‘nós sabemos que tudo concorre para o bem daqueles que amam a Deus’ (Rm 8,28)”. Portanto, os anjos maus – e não só um deles (cf. Mt 25,41) – agem no mundo.

Cristo, Nosso Senhor, realizou exorcismos a fim de enfrentar o poder diabólico (cf. Mt 9,32-34; 12,22-24; 15,21-28; Mc 1,23-28; Lc 8,28-29; 13,10.17; ver Catecismo da Igreja Católica n. 517 e 550) e vencê-lo, nunca para adaptar-se, de modo falso, a uma mentalidade errônea da época. Afinal, o Senhor Jesus é a própria Verdade (cf. Jo 14,6), não um palhaço de circo que buscava apenas louvores da plateia. Esse poder de exorcizar foi dado por Cristo também à Sua Igreja e ela tem até hoje seu nunca abolido – como dizia Quevedo – Ritual de Exorcismo, publicado em edição revista no ano de 1999.

Que diz o Catecismo sobre o Exorcismo? – Diz que “quando a Igreja pede publicamente e com autoridade, em nome de Jesus Cristo, que uma pessoa ou objeto seja protegido contra a ação do Maligno e subtraído ao seu domínio, fala-se de exorcismo. Jesus praticou-o e é d’Ele que a Igreja obtém o poder e encargo de exorcizar. Sob uma forma simples, faz-se o exorcismo na celebração do Batismo. O exorcismo solene, chamado ‘grande exorcismo’, só pode ser feito por um presbítero e com licença do bispo. Deve proceder-se a ele com prudência, observando estritamente as regras estabelecidas pela Igreja. O exorcismo tem por fim expulsar os demônios ou libertar do poder diabólico, e isto em virtude da autoridade espiritual que Jesus confiou à sua Igreja. Muito diferente é o caso das doenças, sobretudo psíquicas, cujo tratamento depende da ciência médica. Por isso, antes de se proceder ao exorcismo, é importante ter a certeza de que se trata de uma presença diabólica e não duma doença” (n. 1673).

É triste que o Pe. Quevedo tenha se deixado levar por opiniões subjetivas e, portanto, destoantes da Igreja, enquanto teólogo.
André Fillipe
André Fillipe
Mais 3 comentários do André Fillipe
André Fillipe
Como seu Turatti enche a boca para dizer que padre Quevedo é um sábio se comete erros absurdos de teologia?
André Fillipe
Quando seu Turatti fala em superstição ele coloca a existência dos demônios no mesmo grupo. E isso é um erro infantil. Superstição sempre foi condenada pela Igreja, mas não os demônios.
André Fillipe
A falácia de seu Turatti está em afirmar que se a Igreja Católica aprova o estudo da parapsicologia então suas teorias mirabolantes estão corretas. Não é assim que funciona a lógica seu Turatti. A maior de todas as ciências é a Teologia como afirma Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica e não a parapsicologia. E São João Paulo II jamais negou a existência do demônio, porém afirmou, como todos …Mais
A falácia de seu Turatti está em afirmar que se a Igreja Católica aprova o estudo da parapsicologia então suas teorias mirabolantes estão corretas. Não é assim que funciona a lógica seu Turatti. A maior de todas as ciências é a Teologia como afirma Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica e não a parapsicologia. E São João Paulo II jamais negou a existência do demônio, porém afirmou, como todos os Exorcistas, que existem fenômenos psíquicos que podem ser confundidos com fenômenos preternaturais. Porém, JAMAIS negou os fenômenos preternaturais, inclusive São João Paulo II realizou Exorcismos. A Teologia de Padre Quevedo possui erros grosseiros como mostrado no texto acima que nega princípios básicos da fé cristã.