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Alfonso Nieto no rasto de S. Josemaria.

Documentação
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Alfonso Nieto no rasto de S. Josemaria

Etiquetas: Educação, Universidade, Comunicação

São Josemaria, no ato de ereção do Estudio General de Navarra, 1960. Atrás vê-se Alfonso Nieto
A 2 de Fevereiro de 2012 morreu o professor Alfonso Nieto. Um académico que contribuiu para tornar realidade um desejo de S. Josemaria: a formação universitária dos profissionais da informação.

Publicamos um seu discurso, pronunciado na Universidade de Navarra, a 26-VI-1985. Palavras que hoje adquirem uma importância especial, pois muitos viram comoD. Alfonso procurou seguir o exemplo de um santo que foi seu pai e seu mestre.

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"Josemaria Escrivá, sacerdote de Deus, trabalhador exemplar"
Alfonso Nieto, 26-VI-1985

Hoje é o décimo aniversário da morte de Mons. Escrivá de Balaguer, Fundador e Primeiro e “Grão Chanceler” da Universidade de Navarra: decorreram dez anos desde aquela dolorosa separação e a sua presença sente-se cada vez mais forte no nosso dia a dia universitário.

Em 2003 a faculdade de Comunicação da Universidade de Navarra prestou homenageou Alfonso Nieto pelos seus 37 anos de serviço a este centro académico.
Os professores que me precederam neste Acto Académico souberam apresentar, com finura intelectual e sensibilidade de espírito, aspectos da vida e ensinamentos de Mons. Escrivá. Ao reflectir sobre qual o fio condutor desta intervenção, duas palavras ecoaram fortemente na minha cabeça: trabalhador e trabalho. Queremos recordar um sacerdote de Deus, trabalhador exemplar, pregador infatigável da santificação do trabalho corrente. Por este e muito outros títulos o seu nome figura já no livro de ouro da história.

Tentar resumir os seus ensinamentos sobre o trabalho como valor humano e sobrenatural e resumir a sua vida de trabalhador, pode parecer – e realmente é – uma tarefa impossível de levar a cabo.
Nunca quis falar senão de Deus pelo que só com o olhar de eternidade é possível encontrar o significado pleno dos seus escritos. Trabalhou intensamente e viveu as realidades mais humanas do trabalho, fosse intelectual ou manual, abraçando no seu ensinamento todas as profissões e ofícios realizados honradamente. Acresce que são tão abundantes os textos sobre o trabalho que nos legou que qualquer tentativa de selecção é semelhante a recolher fragmentos de um caudal sem limites.

Porquê o trabalho?
Porque é que o trabalho humano é o cerne da sua mensagem espiritual? Só penetrando na intimidade dos desígnios divinos será possível encontrar a resposta completa a esta pergunta, sem nos limitarmos a rever a história da humanidade com um critério exclusivamente terreno que poderia qualificar como casual o que na verdade é a Providência. Não foi por acaso que naquele 2 de outubro de 1928 começou a difusão da mensagem renovadora do trabalho. Podíamos perguntar-nos: Porque é que Deus, Senhor do tempo e da eternidade “esperou” até àquele dia?
Para nós homens talvez seja necessário partir de uma realidade simples: a memória do homem é curta e a passagem do tempo fá-lo esquecer o verdadeiro fim da realidade criada. Mas, se a memória humana é frágil, Deus tem-nos sempre no presente e quando caímos em esquecimentos durante séculos, envia mensageiros que anunciam de novo a realidade esquecida. São os homens de Deus que nos relembram e redescobrem as maravilhas escondidas da Criação.

Alfonso Nieto, primeiro catedrático de Empresa Informativa de España juntamente com o professor Francisco Iglesias. Ano de 1992
Durante muitos séculos o género humano tinha esquecido que o meio mais comum para se iniciar a relação entre a criatura e o seu Criador é o trabalho corrente: os ofícios e tarefas profissionais que mulheres e homens realizam no dia a dia. Por contraste, esses mesmos séculos viram crescer a importância do trabalho na ordem económica e social até constituir um dos elementos essenciais na configuração do mundo. Como factor de produção chegou a ser um dos elementos essenciais nas relações humanas e, nalgumas épocas e países, o trabalho deslocou a valorização da pessoa humana para o trabalhador.

Para conhecer a vida exemplar de um homem de Deus é necessário prestar atenção aos detalhes e modos de actuar quotidianos. Como trabalhava Mons. Escrivá?

O mandato divino fixado no momento da Criação – o homem foi criado para trabalhar – parecia ser aplicável apenas a um tipo de pessoas enquanto a outras, pelo seu teor de vida, o texto do Génesis não se lhes aplicava. O trabalho foi – e infelizmente ainda o é, em alguns casos – um estigma de classe, dividindo o género humano, projectando o seu efeito apenas na horizontal para satisfazer novas necessidades de produção de bens ou de prestação de serviços.
A transcendência do trabalho – que poderia traçar-se como uma linha vertical, unindo o céu e a terra – permanecia ignorada, esquecendo as suas raízes profundas na cristandade primitiva. Em face desta situação, pode compreender-se que, nos começos, a mensagem do Fundador do Opus Dei fosse uma novidade para alguns, objecto de contradição para outros; mas também um caminho cheio de luz para os que se decidissem a segui-lo de perto. Há nove anos escutámos nesta Aula Magna aquele que, por desígnio da Providência, viveu muitos anos junto do Fundador do Opus Dei. Dizia-nos então o nosso Grão Chanceler, D. Álvaro del Portillo: A sua afirmação fundamental de que toda a ocupação honesta pode ser santificante e santificadora soou como uma novidade, especialmente nos começos. Opunha-se irremediavelmente a essa doutrina a sua consideração, habitual durante séculos, como coisa vil e inclusive como um estorvo para a santificação dos homens

O que hoje parece lógico, há mais de meio século parecia uma loucura. Não foi tarefa fácil dar valor ao trabalho, desvalorizado na sua dimensão humana e sobrenatural. Mons. Escrivá de Balaguer revalorizou o trabalho outorgando-lhe um valor infinito. Tão profundo era o seu amor ao trabalho que o levou a dizer: se algum de vós não amar o trabalho, aquele que realiza, se não se sentir autenticamente comprometido numa das nobres ocupações humanas para santificá-la, não tem vocação profissional, nunca conseguirá entender o fundamento sobrenatural da doutrina que este sacerdote expõe, precisamente porque lhe faltaria uma condição indispensável: a de ser um trabalhador.
Tão desumano seria pensar que o homem é só trabalho, como seria negar a obrigação universal de ser trabalhador. Ofícios e profissões acompanham inseparavelmente o caminhar terreno das pessoas, são o elemento comum para nos relacionarmos com os nossos semelhantes e com quem nos criou à Sua semelhança, com Deus. Se todos os homens devem ser trabalhadores, se os afazeres laborais são o motor das relações sociais, se não existe um bem mais universal que o trabalho, não será lógico que o trabalho seja o cadinho habitual onde se funde a vida natural e a sobrenatural? Esta lógica divina e humana foi proclamada por Mons. Escrivá relembrando o chamamento universal à santidade.

Com sabedoria de artista, com felicidade de poeta, com segurança de mestre e com um pudor mais persuasivo que a eloquência, procurando - ao procurar a perfeição cristã na sua profissão – o bem de toda a humanidade. Assim trabalhava o Fundador do Opus Dei.
Non recuso laborem!
Falar de trabalhadores e de trabalho implica falar de liberdade pois o homem livre, com autonomia no seu trabalho, merece o título nobre de trabalhador. Quem separa trabalho e liberdade abre as portas à escravatura. A liberdade é indispensável para conseguir que o trabalho se multiplique em novas formas de satisfazer o necessário, tornando a divisão do trabalho em muito mais que um modo de especialização dos afazeres humanos. Graças à liberdade, o trabalhador promove novos trabalhos e participa na contínua actividade criadora. A divisão do trabalho não significa a divisão do conceito de trabalhador. O natural no homem é trabalhar, esforçar-se por alcançar um resultado, mas o resultado material não é a única medida do trabalhador mas um meio para Deus o avaliar.

Aprendeu com S. Josemaria que o tempo “é glória”. E costumava repetir: “o tempo tem um dono que não és tu... "

Despedaçar a essência do homem que trabalha equivaleria a alterar a página da Criação, onde todas as pessoas estão inscritas com o mesmo título: filhos de Deus. A igualdade radical do trabalhador ante o seu Criador Supremo, projecta-se igualmente na consideração do trabalho.

Mons. Escrivá fixou para o tempo um valor superior ao do ouro, por isso o homem não deve perder nem desprezar nem um só segundo. Tempo e trabalho têm valor de eternidade, e tão elevada dignidade funda-se na íntima inserção do trabalho na Vontade de Deus que o assume, faz Seu,
Como sublinhava Mons. Escrivá, chegou a hora de os cristãos gritarem bem alto que o trabalho é um dom de Deus e que não tem sentido nenhum dividir os homens em diferentes categorias segundo o tipo de trabalho, considerando algumas tarefas mais nobres que outras. Universal é a igualdade do trabalho pelo qual podem ser divinos todos os caminhos da terra, todos os estados, todas as profissões, todas as tarefas honestas. A partir daquele 2 de outubro de 1928 o que para muitos era impensável tornou-se acessível, ainda que não seja cómodo ou fácil. Foi como se a imagem do trabalho – humana e por sua vez divina – se focasse com nitidez, fixando uma nova dimensão que, sete lustros depois, seria acolhida com gozo e esperança pelo Concílio Vaticano II.
www.pt.josemariaescriva.info/artigo/alfonso-nieto-n…
A visão positiva e encorajadora que leva a definir o trabalho como um dom de Deus não exclui o esforço e a fadiga, essa fadiga que – como fazia notar recentemente João Paulo II – é criativa porquanto o trabalho também forma o homem e, de certo modo, cria-o. Na vida de Mons. Escrivá é notória a eficácia criadora do seu trabalho. Trabalhou muito e bem encorajando a pôr como medida do trabalho, trabalhar sem descanso, pois …